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Negacionismo tomou conta das praias do Brasil
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Negacionismo tomou conta das praias do Brasil

Tipo Opinião

O Ceará teve um feriadão de praias lotadas, sem distanciamento social, máscaras e desprezo às regras estabelecidas para a volta do turismo. O descolamento da realidade circundante pelos frequentadores da praia de Jericoacoara, por exemplo, pôde ser medido pelo vídeo que viralizou nas redes sociais, acompanhado da frase de uma turista que repercutiu de uma ponta a outra do País: "Gente, literalmente, acabou a quarentena! Voltou!", gritava eufórica, enquanto filmava do seu celular uma centena de turistas acotovelados no balneário - segundo a descrição do jornal El País-Brasil. Foi preciso o governador do Estado, Camilo Santana (PT) entrar em cena, também nas redes sociais, para jogar um "balde de água fria" nos incautos: "a pandemia ainda não acabou" - advertiu ele -, frisando ser "inadmissível" o quadro de descaso e desrespeito observado "aqui e em vários locais do País".

De fato, não só as ensolaradas praias do Nordeste replicaram o que se via no Ceará, mas os litorais do Rio de Janeiro e São Paulo transbordavam massivamente de gente que se enroscava sem a menor cerimônia, tomada de frenesi. As fotos correram o mundo, deixando um rastro de perplexidade. É que o Brasil registrava naquele momento mais de 126 mil mortos, dos quais 8.565 só no Ceará.

Por que, então, tamanho desvario? Só porque há registros apresentando que a média diária nacional de 1.000 mortos caiu para 819 óbitos, em média, nos últimos sete dias? Que jogo mental é esse que naturaliza números tão monstruosos? Frise-se que há mais de 4,1 milhões infectados no País, segundo o Ministério da Saúde, e que cerca de 10 mil ocorreram só num dos dias do final de semana. No Ceará eram, então, 222.372 casos de Covid-19.

Parece, no entanto, que a classe média resolveu ir à forra por causa das restrições impostas pela pandemia. Quem vai para a praia sem tomar qualquer precaução está, na realidade, fantasiando que a pandemia acabou, contudo, ela continua. Os pobres que o digam. Tal como se registra no mundo inteiro, os mais vulneráveis são os que correm mais risco de se infectar e morrer.

Contudo essa diferenciação de resultados entre os bem aquinhoados e os segmentos populares não é ideologia: no último dia 4, uma pesquisa feita pelo Hospital das Clínicas, feita com 5.000 funcionários do hospital, mostrou que aqueles que trabalham em áreas de limpeza, lavanderia e segurança foram sete vezes mais infectados do que os médicos que estão trabalhando diretamente na UTI. Enquanto 6% deles foram contaminados com o vírus, 45% dos demais trabalhadores - que pegam transporte público e moram geralmente nas periferias — ficaram doentes com a Covid-19. Esse é o retrato do Brasil desigual. 

 

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