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Governo recua do Renda Brasil
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Editorial opinião

Governo recua do Renda Brasil

Tipo Opinião

O governo do presidente Jair Bolsonaro desistiu de lançar o programa Renda Brasil, que seria uma reformulação do Bolsa Família. A decisão ocorre depois que membros da equipe econômica passaram os últimos dias dedicados à tarefa de fazer chegar ao público detalhes dos mecanismos que estariam sendo planejados para permitir o financiamento do programa, dentre os quais a revisão de cerca de dois milhões de benefícios destinados a idosos e deficientes, inclusive o congelamento da aposentadoria por dois anos e a desvinculação desta do salário mínimo. Uma conta que exigiria uma emenda à Constituição, a ser aprovada por um Congresso Nacional pressionado por um ano eleitoral, e no momento em que movimentações pela disputa da cadeira presidencial já estão em andamento de forma nada acanhada.

Ao que parece, o olfato aguçado de Bolsonaro sentiu cheiro de pólvora, tanto mais reforçado quando se tornou visível que a popularidade presidencial sofrera um disparo tão logo o auxílio emergencial de R$ 600,00 aprovado pelo Congresso (o qual o presidente e sua equipe econômica propuseram inicialmente ser de R$ 200,00) começou a chegar ao bolso de angustiados cidadãos cuja renda fora reduzida a pó pela pandemia. Sacrificar ainda mais as condições dos mais vulneráveis, como se imaginava nos porões do Ministério da Economia seria um "tiro no pé" - como se poderia supor. E para quem passou 28 anos na Câmara dos Deputados, o disparate político soou, supostamente, como um toque de finados prévio para uma almejada recondução presidencial em 2022. Soado o alarme era preciso reverter a coisa de modo a apresentar o presidente como "salvador" de velhinhos e de pobres acossados pela insensibilidade de uma burocracia despida de alma. E aí Paulo Guedes e sua equipe econômica foram "ameaçados" de "cartão vermelho" pelo próprio Bolsonaro. De qualquer forma não deixa de ser sensato o recuo presidencial.

De fato, seria uma insensatez que numa hora de tanta aflição para a maior parte da população o governo se encarregasse de ajudar a afogar os que ainda conseguem manter a cabeça de fora, por conta do socorro emergencial e dos benefícios previdenciários. Ademais, é preciso reconhecer que a situação de desestruturação econômica trazida pela pandemia exige providências ousadas para permitir à sociedade uma base mínima de renda, universalizada, que permita a todos se manterem à tona frente não só a esta, mas a outras borrascas futuras que ameacem levar de roldão o mínimo que a humanidade conquistou até aqui. Se a instituição de uma renda básica universal já era necessária antes - como preconizava Eduardo Suplicy e foi aprovado pelo Congresso - o que dirá no atual quadro de devastação geral? É a isso que se devem dedicar o governo e as lideranças nacionais. Para financiá-la é preciso requerer a contribuição dos que estão no pico da pirâmide social. 

 

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