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Editorial: EUA: por quem dobram os sinos da democracia?
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Editorial: EUA: por quem dobram os sinos da democracia?

Tipo Opinião

O mundo continua perplexo com a situação dos Estados Unidos, onde o candidato vencedor das eleições, o democrata Joe Biden, mesmo após ter obtido a maioria dos votos populares e conquistado a maior parte dos delegados do Colégio Eleitoral, vem sendo impedido pelo atual presidente, o republicano Donald Trump, de iniciar os procedimentos prévios, rituais da passagem do cargo, como sempre se faz a esta altura da apuração. Em 244 anos da existência do estado nacional americano, o país jamais se deparou com uma situação tão vexatória e esdrúxula.

Chefes de estado e de governo de todo o mundo - inclusive alguns não alinhados politicamente com o atual ocupante da Casa Branca - já enviaram congratulações ao vitorioso. O embaraço, o constrangimento e o temor pelas consequências desestabilizadoras em curso na (até então) democracia mais estável do mundo, espalham-se pelas chancelarias do planeta, provocando um desgaste de imagem e de liderança inédito. Um mau exemplo que pode reforçar a audácia de governantes autocráticos e dos potencialmente refratários ao Estado Democrático de Direito.

Um alerta, portanto, mobiliza a consciência democrática mundial para esse fenômeno que transcende as fronteiras do EUA e questiona o próprio futuro da democracia no mundo. Pois, se o anacronismo do processo eleitoral americano é um fato (por não ter acompanhado a evolução política, cultural e tecnológica de sua sociedade) é também verdade que isso vem prejudicando a legitimidade da sua representação política. Mais grave ainda, porque as instituições americanas foram desenhadas, pressupondo a integridade moral e o insuspeito compromisso do seu eventual dirigente maior com o interesse público e de seu apego ao ritual democrático (mesmo quando costumeiro e não escrito).

A coisa pode embolar e a se desviar de seu curso, se o eventual ocupante do cargo for um indivíduo sem esses predicados e disposto a demolir as instituições democráticas, por dentro, lançando mão, de forma abusiva, das prerrogativas presidenciais (de grande poder), em benefício próprio e dos grupos de interesse reunidos em torno de si. Não precisaria dar um golpe de estado convencional, bastaria ocupar paulatinamente as instâncias controladoras com pessoas predispostas a uma fidelidade canina. Ao forçar os limites do aparato legal, cria-se um clima de submissão e medo (de demissão e perseguição), paulatinos, ao derredor. E se contar com uma base social disposta a acompanhá-lo e assumir o papel de força intimidadora e violenta contra quem obstaculize sua marcha insensata, não haverá quem o pare (os tiranos são incontroláveis).

Isso já aconteceu sobejamente na História moderna: de repente, a sociedade americana dá-se conta de que pode acontecer consigo. No resto do mundo, os abutres da democracia estão à espreita para o festim. Daí, o alerta amarelo estar soando em todas as democracias. 

 

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