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Tentações golpistas
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Editorial opinião

Tentações golpistas

Se a segunda-feira foi um dia turbulento, com a troca de seis ministros em uma reforma inesperada, os tremores da movimentação continuam a repercutir. Uma das demissões mais ruidosas foi a do ministro da Defesa, general Fernando Azevedo e Silva, por divergências com o presidente Jair Bolsonaro.

O confronto deu-se devido à resistência do titular da pasta em politizar as Forças Armadas e também por manter no comando do Exército o general Edson Pujol. Bolsonaro queixava-se da falta de apoio dos militares e queria demonstração pública de concordância com a sua política, sem conseguir.

Pujol já fizera afirmações contrariando esse desejo presidencial ao garantir que os militares não queriam "fazer parte da política". As declarações são de novembro de 2020, quando Bolsonaro ameaçou com "pólvora" os países que aplicassem sanções ao Brasil, devido ao desmatamento da Amazônia. Na mesma ocasião, o general ainda lembrou que as Forças Armadas não eram uma "instituição de governo", mas "de Estado".

Assim, o mais provável é que Pujol seria afastado da chefia do Exército pelo novo ministro da Defesa, general Braga Neto. Porém, antes que isso acontecesse, os comandantes das três forças, Edson Pujol (Exército), Ilques Barbosa (Marinha) e Antônio Carlos Bermudez (Aeronáutica) renunciaram coletivamente, demonstrando que também não aceitam a politização dos quartéis. O fato de o governo ter tido conhecimento de que haveria a renúncia, tendo se antecipado no afastamento dos comandantes, não muda a essência do gesto deles.

Se o ex-ministro Pazuello, com seu "um manda, o outro obedece", arranhou profundamente a imagem das Forças Armadas, a atitude dos três comandantes sinaliza comportamento distinto, de compromisso público. É de se esperar que essa mensagem, de respeito constitucional, seja assumida pelos futuros comandantes. Os sinais, porém, não são alvissareiros. O general Braga Neto, emitiu "ordem alusiva ao 31 de março de 1964", na qual chama o golpe militar de "movimento" e defende que os acontecimentos decorrentes devem ser "compreendidos e celebrados".

De Bolsonaro, são conhecidos o pendor autoritário e seus propósitos golpistas, demonstrados sobejamente, tanto por declarações quanto por ações, como participar de manifestações pedindo o fechamento do Supremo Tribunal Federal e do Congresso Nacional. Ontem mesmo foi barrada na Câmara dos Deputados iniciativa do líder do PSL, Major Vitor Hugo, para ampliar os poderes do presidente durante a pandemia da Covid-19. O objetivo era aprovar o PL 1074/2021, permitindo a Bolsonaro até o controle das polícias estaduais.

Portanto, esse avanço de Bolsonaro, querendo pôr as Forças Armadas a serviço de seus interesses políticos, merece o repúdio de todas as instituições, que devem, mais do que nunca, estar alertas para manter o País dentro das balizas democráticas. Assim, não podem temer a insolência de tiranetes, pelo contrário, têm de estar preparadas para responder à altura o desafio que impõe o momento. n

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