
O que O POVO pensa sobre os principais assuntos da agenda pública
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O novo ministro das Relações Exteriores, Carlos Alberto França, tomou posse com um discurso frio, racional e pacificador, tanto para o público externo quanto para o interno, o que não é pouco tendo em vista a confusão herdada de Ernesto Araújo. Este deixou o cargo depois de arranjar confrontos gratuitos com a China, com a Argentina e com os Estados Unidos, a partir do momento em que Joe Biden derrotou Donald Trump, uma espécie de guia do chanceler sainte.
O sinal de afastamento com a política levada a cabo por Araújo foi demonstrada logo no início da fala de França, que dirigiu exatas oito palavras a ele, à exclusão do nome e qualificação do agora ex-ministro: "A meu antecessor (...), agradeço o apoio na transição". Nenhum elogio à forma como Araújo conduziu a política externa brasileira por mais de dois anos. De fato, qualquer referência benéfica seria indevida, pois Araújo, além de infamar a imagem externa do País, conseguiu o feito de descontentar os mais diversos setores da sociedade brasileira: da direita à esquerda; de ecologistas a produtores rurais, passando pelo Congresso Nacional, cujos líderes pressionaram por sua saída.
Na sequência, o novo chanceler demarcou três segmentos para a sua atuação, considerados "urgências": economia, saúde e desenvolvimento sustentável (a questão climática). As três, diga-se, secundarizadas por Araújo, que preferiu pôr a ideologia acima dos interesses do País. Em defesa da sua atuação belicosa, ele chegou a dizer, na formatura de uma nova turma de diplomatas no fim do ano passado que, se a nova política externa tornava o Brasil um pária internacional, "então que sejamos esse pária".
França também distanciou-se da política isolacionista ao dizer que seu compromisso seria "engajar o Brasil em intenso esforço de cooperação internacional, sem exclusões", para "abrir novos caminhos de atuação diplomática, sem preferências desta ou daquela natureza". Ou seja, reencaminhar a política externa ao seu leito natural, de prestígio ao multilateralismo e respeito aos organismos internacionais.
O discurso de França foi extremamente cuidadoso, tocando em pontos sensíveis das políticas do presidente Jair Bolsonaro, implementadas pelos seus auxiliares "ideológicos". Assim, fez coro com a linha um pouco mais equilibrada que, pelo menos aparentemente, Bolsonaro vem procurando implementar em seu governo.
Alguma mudança já ocorreu na Saúde, por exemplo, mas o presidente continua a fazer discursos de contraponto a algumas medidas implementadas pelo ministro Marcelo Queiroga. O Ministério das Relações Exteriores é uma segunda experiência nesse campo. A ver, portanto, se prevalecerá uma estabilidade, ainda que precária, ou se haverá outra quinada para satisfazer as bases mais extremistas de apoio do presidente.n
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