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Editorial: Cúpula do Clima: chance de retomar o diálogo externo
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Editorial: Cúpula do Clima: chance de retomar o diálogo externo

A semana que começa será marcada a nível internacional pela reunião de 40 dos principais líderes mundiais discutindo soluções para o aquecimento global. A partir da próxima quinta-feira, 22, a convite da Casa Branca, chefes de Estado e de governo participam da Cúpula do Clima que, nas entrelinhas, se propõe a ir além dos discursos voltados à área ambiental.

Eleito no último novembro, o presidente dos Estados Unidos Joe Biden chegou a falar durante a campanha que pretendia reunir o mundo, se necessário, para pressionar o governo brasileiro a reduzir os níveis de desmatamento na Amazônia. A Cúpula do Clima referenda a mudança de postura de Washington quanto a fazer do diálogo sobre o meio ambiente o principal tópico de diplomacia. Sobretudo com o Brasil.

A aposta do governo de Jair Bolsonaro (sem partido) em publicamente declarar apoio a Donald Trump nas eleições americanas de 2020 se mostrou um erro estratégico assim que confirmada a vitória de Biden. A desastrosa passagem de Ernesto Araújo pelo comando do Itamaraty deixou como terrível legado um país praticamente sem interlocução com potências como os próprios EUA, a China e os países da União Europeia.

Visando a diversificação de parcerias, a Política Externa Brasileira teve como pilares ao longo da história a independência e o pragmatismo nas ações. Algo que Ernesto Araújo colocou para escanteio no período em que foi chanceler. Não custa lembrar que o Brasil abriu mão de sediar em 2019 a Conferência de Mudanças Climáticas da ONU (COP-25), desperdiçando uma chance de exercer um protagonismo diplomático na área ambiental.

Assim como as de Ernesto Araújo, a conduta e os discursos de Ricardo Salles são contrários ao que se espera de um ministro do Meio Ambiente. Inclusive com ele sendo alvo de notícia-crime enviada pela Polícia Federal ao STF por supostamente integrar organização criminosa que beneficiava madeireiros ilegais e criava obstáculos para investigações da PF e do Ibama.

As ações de política externa precisam ser acompanhadas de mudanças efetivas na política ambiental. Embora ainda insípida e passível de desconfianças, a atitude de Bolsonaro de enviar uma carta a Biden na última semana se comprometendo a erradicar o desmatamento ilegal na Amazônia até 2030 é uma primeira sinalização positiva. A resposta americana foi clara ao dizer que a relação bilateral Brasil-EUA e o apoio a parcerias comerciais passam necessariamente por uma mudança de postura da política ambiental brasileira.

Cabe ao governo brasileiro, portanto, fazer da Cúpula do Clima uma oportunidade para retomar o diálogo com atores importantes no cenário internacional. Promover um discurso que seja adequado às demandas ambientais da atualidade. E, posteriormente, fazer com que tais políticas não sejam apenas retóricas. 

 

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