
O que O POVO pensa sobre os principais assuntos da agenda pública
O que O POVO pensa sobre os principais assuntos da agenda pública
Foi um ato injustificável da Polícia Civil do Rio de Janeiro a operação na favela do Jacarezinho, cuja consequência foi submeter os moradores a um dia de intenso terror, já não bastassem as agruras que sofre uma população destituída dos direitos mínimos de cidadania. Centenas de famílias viram-se em meio a um insano tiroteio, que durou cerca de dez horas, terminando com a morte de 28 pessoas, sendo um policial e 27 civis.
Segundo o Grupo de Estudos dos Novos Ilegalismos da Universidade Federal Fluminense (Geni-UFF), que compila dados sobre mortes em ações da polícia do Rio de Janeiro desde 1989, foi a operação mais letal do período, entre as 13 realizadas desde então no estado.
Os mais importantes jornais do mundo deram destaque à operação, com títulos que variavam de "banho de sangue" a "carnificina". Os mesmos termos usados por moradores do Jacarezinho para descrever o massacre, acrescentando suspeitas de execuções sumárias.
O Ministério Público do Rio de Janeiro (MP-RJ) afirma que foi avisado da operação policial no início do dia em que ela foi realizada, na quinta-feira, de modo que teria sido cumprida a ordem do Supremo Tribunal Federal de que tais ações, durante a pandemia, só poderiam ocorrer em casos "absolutamente excepcionais", com prévia comunicação ao MP.
A Polícia, por sua vez, diz que usou seu setor de "inteligência" para planejar a investigação, que apurava o recrutamento de crianças para o tráfico, seguindo todos os protocolos legais. Mesmo sem "comemorar", devido ao alto número de mortos, a Polícia preparou uma entrevista coletiva para defender a ação.
O problema dessas justificativas é que profissionais da segurança pública experientes costumam ressaltar que uma operação é boa somente quando os policiais voltam vivos para casa e os suspeitos são levados para a delegacia, presos. Justamente o contrário do que aconteceu no Jacarezinho.
O fato é que essa política de confrontos brutais, de "guerra às drogas", já se provou inútil, faliu no mundo inteiro, mas continua ceifando a vida de brasileiros, inclusive de crianças, com incursões desastradas das polícias nas favelas.
Lamentável foi a reação das duas maiores autoridades da República. O presidente Jair Bolsonaro não se pronunciou sobre o assunto, porém o vice, Hamilton Mourão, verbalizou a ótica do governo. Em entrevista à rádio O POVO/CBN, ele disse, mesmo sem ter "certeza", que os mortos são "marginais", antes da identificação dos que foram abatidos, e sem nenhuma prova para sustentar a sua acusação. Esse tipo de comportamento não leva à solução dos conflitos, pelo contrário, agrava-os.
Quem paga as consequências desse reducionismo do conceito de segurança pública são as famílias trabalhadoras, obrigadas a viver em locais insalubres e sem a assistência do Estado. E, pior, quando este chega, é para levar a morte. n
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