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Exigência de voto impresso perde credibilidade
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Editorial opinião

Exigência de voto impresso perde credibilidade

Restam poucas dúvidas, ou nenhuma, que o presidente da República, Jair Bolsonaro, está mais interessado em tumultuar as eleições do próximo ano, na qual é candidato à reeleição, do que em defender a lisura do pleito.

Ele mesmo tomou a iniciativa de dizer, sem que ninguém lhe perguntasse, que "sem voto impresso em 2022 vamos ter problema pior do que nos Estados Unidos". Como se sabe, no país do Norte, extremistas de direita invadiram o Capitólio, a sede do Congresso americano, incentivados por discurso do ex-presidente Donald Trump, depois de ter perdido as eleições para Joe Biden.

O questionamento ao processo eleitoral eletrônico remonta à campanha presidencial de 2018, quando Bolsonaro afirmava que só perderia a votação em caso de fraude. Como ganhou do adversário Fernando Haddad (PT) no segundo turno, seu discurso mudou, passando a alardear que, sem a suposta fraude, teria vencido no primeiro turno. Por mais de uma vez afirmou haver provas do que dizia, mas nunca as apresentou.

O fato é que inexiste uma única evidência de fraude que possa comprometer o resultado de um pleito, desde que as urnas eletrônicas entraram em operação no Brasil, em 1996. Pelo contrário, como disse o presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ministro Luís Roberto Barroso, "as urnas eletrônicas ajudaram a superar os ciclos da vida brasileira que vêm desde a República Velha, em que as fraudes se acumulavam".

Da mesma forma que os militantes antivacina da Covid-19 tornam-se um grupelho cada vez mais fechado em si mesmo, a repetir monocordicamente teses anticientíficas e teorias da conspiração, o fenômeno acontece também com os negacionistas da segurança das urnas eletrônicas.

O fato de 11 partidos, das mais diversas extrações ideológicas, incluindo aliados do presidente — como o PP e o PL —, terem se posicionado contra a proposta de emenda constitucional (PEC), apresentada pela deputada bolsonarista Bia Kicis (PSL-DF), para reintroduzir o voto impresso no sistema eleitoral, é uma demonstração cabal da derrota dessa tese.

Mas Bolsonaro continuará insistindo, pois o objetivo é criar o caos nas eleições presidenciais do próximo ano. Confusão que, aliás, acontecerá, ao que tudo indica, com ou sem voto impresso. Mantida a urna eletrônica, o grito de "fraude" continuará ecoando; se, mesmo contra todos os indicativos, o voto impresso vier a ser implementado e Bolsonaro for derrotado, haveria o pedido de recontagem em milhares de urnas para tumultuar o processo.

Portanto, é preciso que a sociedade e os políticos se unam para que, acima de suas diferenças, todos possam defender um sistema auditável, seguro e rápido. A prova dessa confiança pode ser rastreada desde que, pela primeira vez, há 25 anos, os brasileiros, em vez de usarem a caneta para votar, teclaram na urna eletrônica o número dos candidatos que escolheram. n

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