Até ontem à noite o presidente da República, Jair Bolsonaro (sem partido), continuava sob observação no hospital Vila Nova Star em São Paulo, onde está internado desde quarta-feira desta semana. Segundo os médicos que o atendem, o presidente apresenta um quadro de obstrução intestinal e ficará em "tratamento conservador" para verificar se a disfunção pode ser resolvida sem a necessidade de intervenção cirúrgica. Bolsonaro já tinha apresentado sinais de que não vinha bem, devido a uma crise persistente de soluços, que o acompanhava por mais de uma semana.

Mesmo com Bolsonaro hospitalizado, o vice-presidente, Hamilton Mourão (PRTB), o primeiro na linha de sucessão, resolveu manter viagem agendada para participar do encontro de Países da Língua Portuguesa, em Luanda (capital de Angola), de onde deverá voltar no domingo. Para Mourão, o presidente está sendo bem assistido por sua equipe médica, permitindo-lhe afastar-se temporariamente do País.

O segundo na linha de sucessão é o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), mas há dúvida se ele poderá assumir a Presidência, caso haja necessidade de o presidente licenciar-se por motivo de Saúde. Ele é réu em ações penais no Supremo Tribunal Federal (STF) e, segundo decisão da Corte, ficaria impedido de assumir o Executivo federal. No entanto, seus advogados afirmam que, como ele recorre nos processos, teria o direito de assumir a Presidência.

Em vista das dificuldades inerentes à ausência de um chefe de Estado, ainda que temporariamente, é necessário que a população seja informada com a maior transparência possível sobre suas reais condições de saúde. Para isso, os boletins médicos deveriam ser divulgados com frequência, de modo a se tornarem a única fonte oficial para esse tipo de notícia. No entanto, os filhos do presidente parece que não compreendem a gravidade do momento e ficam a divulgar informações dispersas, sem orientação médica, a respeito da situação do presidente. O senador Flávio Bolsonaro (Patriota-RJ) chegou a declarar que o pai havia sido "intubado" para logo em seguida afirmar que estava "tudo bem".

A saúde de um presidente da República é assunto de Estado e assim precisa ser tratado, especialmente, como se anotou acima, com uma linha sucessória problemática, com o vice-presidente no exterior e a dúvida que paira sobre a possibilidade de Arthur Lira ter condições legais para assumir o cargo.

Entretanto, não se pode confundir transparência com exposição vulgar da intimidade, como vem fazendo o perfil do presidente do Twitter, não se sabe se postado por ele ou por alguns dos filhos. Menos ainda politizar a doença, aproveitando para atacar adversários políticos, acusando-os de serem responsáveis por seus problemas de saúde. A principal preocupação do presidente agora deveria ser cuidar de sua higidez, deixando a luta política para quando estiver restabelecido. n