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Ameaças ao padre Lino e à democracia
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Editorial opinião

Ameaças ao padre Lino e à democracia

A tolerância costuma ser apresentada como a virtude das virtudes para quem tem na fé cristã uma baliza do seu comportamento em sociedade. Estranhe-se, portanto, que um religioso de 82 anos, 56 dos quais dedicados à vida sacerdotal, de repente seja levado à necessidade extrema de pedir proteção à vida como resultado de ameaças feitas contra ele pelo simples fato de, em sermões, apresentar um juízo crítico contra os governantes de momento e suas ações.

Por um lado, defina-se como vergonhosa a situação que envolve o padre Lino Allegri, submetido a constrangimentos e pressões e preventivamente afastado pela Arquidiocese de Fortaleza das celebrações na Paroquia da Paz, como efeito de uma ação agressiva e intimidadora de fiéis insatisfeitos com as menções críticas dele ao governo federal e ao presidente da República. De outra parte, parece preocupante que segmentos da sociedade persistam na compreensão de que pelo grito e pela força farão valer suas ideias.

A religião e a igreja simbolizam espaços sadios de boa reflexão para momentos delicados como este atual do Brasil, marcado por uma sociedade partida por interesses, visões e ideologias diferentes entre elas e, em geral, pouca disposição para identificar e valorizar o que é comum a todos. Pelo contrário, busca-se realce sempre nas diferenças, transformando-as em defeitos e potencializando um distanciamento que somente gera tensões e desavenças.

É evidente que os incomodados com as palavras do padre e até com suas posições políticas têm total direito de manifestarem suas contrariedades. Desde que o façam no lugar correto, de maneira justa e civilizada, sem tom intimidatório e, também, respeitando o direito do celebrante de expressar aquilo que é fruto de suas convicções. Uma discussão que seja feita no espaço adequado e que, sendo o caso, pareça capaz de convencer ao próprio religioso da impropriedade da utilização do púlpito da igreja para mensagens consideradas de cunho político.

O governo do Estado parece ter adotado as providências devidas na esfera policial que o caso contempla ao anunciar a abertura de uma investigação, sendo fundamental, de fato, identificar e punir os responsáveis pelas ameaças contra o padre Lino. Afora isso, porém, precisamos ir mais fundo na discussão para se tentar entender por que chegamos a um estado de coisas no País em que a disputa de poder invade os espaços onde sempre predominaram, por característica natural, o amor, a compreensão e o respeito ao próximo, quem quer que seja e o que quer que pense.

Certo, afinal, é que aquele que não parece pronto para o exercício da tolerância com o contrário demonstra-se igualmente inapto para uma prática cristã efetiva, falando-se de vida real. Vai à Igreja, comparece às celebrações, cumpre os rituais, mas, em espírito, parecerá sempre distante daquilo que se espera de quem mereça ser chamado verdadeiramente de cristão.n

 

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