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Tóquio: celebrações e pedidos de apoio
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Tóquio: celebrações e pedidos de apoio

Os Jogos de Tóquio têm sido marcados por muitos momentos de superação - e não apenas em números, mas, sobretudo, por trazer à tona temas que, por vezes, são desconsiderados em competições do tipo. Inicialmente, por ser realizada no meio de uma pandemia, como esta da covid-19, a Olimpíada no Japão foi criticada pelo fato de acontecer em um contexto dramático. Ao mesmo tempo, a disputa tem nos mostrado vários assuntos colaterais e igualmente relevantes.

Entre os muitos feitos louváveis até aqui, a uma semana do fim dos Jogos, merecem realce as conquistas dos brasileiros Rayssa Leal (no skate), Ítalo Ferreira (no surfe), Mayra Aguiar (no judô) e Rebeca Andrade (na ginástica), para citar alguns. Geralmente, com pouco patrocínio e sem fartas condições financeiras, os atletas passam por treinamento rígido e privações, em um misto de renúncia e dedicação, para chegar bem às competições de alto rendimento.

Chamam a atenção as histórias de superação das dificuldades, quando conhecemos o caso do surfista Ítalo Ferreira, que aprendeu a surfar com uma tampa de caixa de isopor, e da ginasta Rebeca, vinda de uma família numerosa de filhos, criados apenas pela mãe. São situações que comovem, mas não devem ser romantizadas. Essas histórias escancaram a falta de apoio a muitos esportes, o qual destaca, muitas vezes, as atividades mais populares e com atletas mais conhecidos.

A prática do surfe e do skate teve uma repercussão significativa em toda a mídia nos dias que sucederam as conquistas de Ítalo e Rayssa. Pôs-se a evidenciar as atividades como um intermédio para os casos bem-sucedidos. Assim, é preciso que um atleta passe por todas as dificuldades até se sagrar medalhista olímpico para ter o reconhecimento público e o patrocínio de que precisa. Além do futebol, sempre em destaque na imprensa, outros esportes aparecem quase sempre à margem, ofuscando talentos e habilidades.

A narrativa de resiliência é constante nas realizações dos "heróis olímpicos". No entanto, são casos que precisam ser analisados com mais lucidez, ao deixar um pouco de lado a emoção embutida pelo maior evento esportivo mundial. Quando o judoca português Jorge Fonseca dedica a medalha a duas grandes empresas que não quiseram patrociná-lo, a mensagem é dirigida a muitas outras. Quando Marta, a maior artilheira em Copas entre homens e mulheres, escolhe usar chuteiras sem marcas, manifesta-se em protesto pela igualdade.

A Olimpíada de Tóquio tem ajudado a descortinar muitas outras vulnerabilidades a que os atletas e os jovens com potencial para o esporte estão submetidos. É legítimo vibrar e aclamar as conquistas dos atletas. Mas, antes, é preciso apoiar. É esse suporte que os ajudará também a combater as desigualdades sociais. n

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