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É preciso conter o golpismo
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Editorial opinião

É preciso conter o golpismo

Pela primeira vez desde a redemocratização, o feriado do 7 de setembro se converteu em razão de temor para parte dos brasileiros, receosos de que a escalada de beligerância do presidente Jair Bolsonaro, combinada a um chamamento desavergonhado aos atos previstos para a data, resulte em episódios de gravidade, quando não de violência física e ataques deliberados às instituições.

Há motivos para tanto. O chefe do Executivo tem se empenhado pessoal e sistematicamente, inclusive durante o horário de trabalho, em mobilizar a parcela da população que ainda o apoia, arregimentando-a para que esteja presente neste dia que, nos planos do governismo, terá servido, se bem-sucedido, como demonstração de força do presidente, cuja popularidade vem decaindo e suas chances eleitorais, apequenando-se.

Existem, porém, caminhos mais saudáveis e menos tumultuados para que um governante se envaideça de seu capital político e se exiba publicamente, se é o caso de fazê-lo - a boa política desaconselha esses rompantes, mas, em se tratando de Bolsonaro, o território do debate é amiúde mais rasteiro.

Uma convivência respeitosa com o Judiciário ou uma pactuação emergencial, por exemplo, constituem meios através dos quais o presidente haveria de se mostrar sensível aos desafios atuais e, ao mesmo tempo, à altura do cargo que ocupa. Conhecendo-se Bolsonaro, contudo, sabe-se que não fará nem uma coisa nem outra.

Pelo contrário, o presidente tem apostado na arruaça ao convocar franjas radicalizadas a protestar contra os poderes da República, atiçando o golpismo e inflamando um cenário já suficientemente temerário, investindo contra a estabilidade, incitando o confronto aberto e ameaçando ministros do Supremo, desincumbindo-se de respeitabilidade e enxovalhando a Presidência.

Não é pouco. É preciso conter esses arreganhos no nascedouro, sobretudo quando, mesmo travestidos de atos a favor das liberdades, se destinam a sabotar explicitamente as mesmas garantias constitucionais que os tornam possíveis num regime de leis como o nosso.

Não se pode transigir com a conflagração insuflada por quem, por dever de ofício e em razão do mandato para o qual foi eleito, deveria conduzir-se estritamente dentro do que estabelece o jogo democrático, aceitando seus limites e promovendo concórdia em vez de desarmonia.

Mas Bolsonaro está cada vez mais em vias de atravessar o Rubicão, como alertou recentemente um ministro do STF. Caso o faça, e os gestos do presidente antecipam esse movimento, o preço a se pagar é alto.

Em declaração dias atrás, o chefe da nação se referiu ao 7 de setembro como "uma grande oportunidade". Não se atreveu a dizer do quê. Por seu histórico, não se adivinha nada de benfazejo. Mas isso é uma suposição.

Que o 7 de setembro seja uma oportunidade, sim, mas de enquadrar, responsabilizar e eventualmente punir com rigor todos aqueles que se lançarem contra a ordem democrática. Que as instituições (MP, Supremo e Legislativo) estejam alertas e prontas a agir. Que os que tenham compromisso com a legalidade e o bem comum não se acumpliciem com os arroubos autoritários. n

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