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A agressiva imagem de um momento
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Editorial opinião

A agressiva imagem de um momento

As ruas das cidades brasileiras, especialmente das metrópoles, nos têm oferecido exemplos quase diários, mais recentemente, do quadro de retrocessos que o País experimenta no campo econômico com efeitos sobre o cenário social. Nos últimos dias, viralizou nas redes sociais o registro em imagem de uma situação de avanço de um grupo de pessoas sobre um caminhão de lixo, em área nobre de Fortaleza, para disputa de qualquer coisa que ainda fosse possível aproveitar em meio a restos e sobejos.

É uma situação dramática, agravada pela inexistência de uma ação de Governo que se perceba voltada para enfrentá-la. A equipe econômica mantém seu foco inabalado na busca por indicadores que garantam o tal equilíbrio fiscal, uma ação que até se reconhece meritória quando observada nos seus limites, mas é um erro que seja feita hoje sem quase nenhuma preocupação de compatibilizar tal esforço com a garantia de condições mínimas de vida digna ao brasileiro de setores mais necessitados da população e que depende com maior clareza do Estado para ter atendidas suas necessidades básicas. Segmento, em geral, que não vê seu drama inserido nos cálculos frios dos burocratas econômicos, muito menos está presente de maneira concreta às suas preocupações cotidianas.

O mais grave, como característica do governo Bolsonaro, é que não se consegue localizar dentro da sua estrutura administrativa uma área, um ministério ou um ministro que pareça interessado no assunto ou disposto a lutar para inserir a questão social dentro do debate econômico. O sofrimento das pessoas e famílias que arrastam-se pelas cidades do País atrás de sobras de lixo para sua alimentação do dia, infelizmente, passa ao largo dos temas que realmente ocupam o espaço de preocupações reais de uma gestão que não colocou o combate à pobreza entre as suas prioridades. Dias atrás, lembremos, alegou-se uma questão quase técnica para vetar uma iniciativa do parlamento que faria o Estado garantir às mulheres sem condições financeiras devidas a distribuição de absorventes higiênicos para enfrentarem com um mínimo de dignidade a delicada fase de menstruação. Uma coisa cruel, mais do que apenas uma insensibilidade.

Claro que não se pode negar que há componentes da crise atual que têm a ver com o momento histórico em que lutamos para sair de um quadro de pandemia, que ainda persiste, com consequências objetivas sobre a economia. O que acontece é que parecia fácil supor que a camada da população que mais exigiria ações e programas de assistência no processo de retomada da normalidade seria aquela localizada na base mais baixa da pirâmide social. No caso, estamos falando de quem não dispõe do mínimo necessário para se alimentar e aos seus, submetendo-se à humilhação extrema de disputar sobras de lixo para suas necessidades diárias. A sociedade pode se mobilizar para amenizar o drama destes brasileiros, como já o fez tantas vezes antes, mas é obrigação daqueles que nos governam atuar para devolver o mínimo de amor-próprio a quem parece tê-lo perdido quando registros do tipo são colhidos no triste cotidiano de nossas cidades. n

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