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Editorial: A recessão técnica e o perigo da estagflação
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Editorial: A recessão técnica e o perigo da estagflação

Apesar dos arroubos retóricos do ministro da Economia, Paulo Guedes, a realidade é que o País entrou em recessão técnica, que se caracteriza quando o Produto Interno Bruto (PIB) apresenta queda por dois períodos de três meses consecutivos, o que aconteceu no terceiro trimestre, concluído em setembro, com variação negativa de 0,1%. No segundo trimestre, o recuo foi de 0,4% em relação aos primeiros três meses do ano.

Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), responsável pelos cálculos, o resultado é reflexo da queda de 8% no setor agropecuário no trimestre, principalmente devido à falta de chuvas, que prejudicou as colheitas, pelo declínio na produção de algodão e pela redução no abate bovino.

Mesmo com seguidas reduções na projeção de crescimento, a previsão é que o Brasil termine este ano com alta de mais de 4% no PIB. Em compensação, o prognóstico para o próximo ano é bastante pessimista. Segundo o relatório Focus, publicação do Banco Central, o crescimento do PIB em 2022 não vai superar a casa de 1%.

Mesmo assim, o ministro Paulo Guedes parece descolado da realidade. Logo após ser anunciada a queda do PIB, ele afirmou que o Brasil está "condenado a crescer", e que a única pergunta seria se o avanço se daria "com um pouco mais ou menos de inflação". Será, portanto, necessária uma sintonia fina para regular a inflação de modo que o aumento nos preços não prejudique de forma substancial o crescimento.

Mas fato é que, até agora, o ministro não demonstrou muita habilidade para induzir o desenvolvimento. Ele sempre esteve mais afeito a fazer prognósticos que não se cumpriram e a criar narrativas para explicar o insucesso de suas políticas.

Agora, por exemplo, diz que a "guerra política" prejudica o desempenho do País, criticando os adversários que teriam se utilizado da pandemia para atacar o governo. Ao fazer essa declaração, o ministro deixa de levar em conta pelo menos três aspectos da realidade: a disputa política é própria dos regimes democráticos; o presidente Jair Bolsonaro é o principal fator desestabilizador no combate à pandemia; e a obrigação dos líderes é resolver problemas e não atribuir a responsabilidade a terceiros.

O fato é que alguns especialistas já apontam para o risco de o País cair na estagflação, quando não há crescimento econômico, mas a inflação mantém-se alta. Acrescenta-se a isso outro fator preocupante, o desemprego, que continua alto, em 12,6% no terceiro trimestre, somando 13,5 milhões de pessoas sem trabalho. Outros 40,6% da população brasileira vivem na situação precária da informalidade.

De qualquer modo, há de se fazer votos para que Paulo Guedes acerte a mão desta vez, pois um cenário sem crescimento econômico e com inflação alta será o pior dos mundos. n

 

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