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O país das tragédias e dos descasos
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Editorial opinião

O país das tragédias e dos descasos

A condição de brasileiro, infelizmente, tem feito com que nos sintamos acostumados com tragédias cotidianas que se repetem e se acumulam. É importante que busquemos meios de entender quais delas podemos catalogar como inevitáveis, resultado de fenômenos naturais que não havia como prever, e quais parecem consequências diretas da incapacidade que demonstramos de nos organizar como sociedade. Não falo apenas de Estado e de governos, mas do cidadão que também deveria estar melhor conscientizado de direitos e deveres no seu dia-a-dia rotineiro e cada vez mais desafiador.

Choca ver as imagens do que aconteceu no município de Capitólio, em Minas Gerais, com formações rochosas se desfazendo em cima de embarcações lotadas de turistas que percorriam um cânion cuja beleza, naturalmente, costuma atrair muitos visitantes de várias regiões e estados. Há dez mortos, uma família praticamente desfeita com cinco vidas perdidas, a cujas memórias devemos uma explicação que seja honesta e, principalmente, que aponte culpados, se existentes, pelo terrível acontecimento. O episódio precisa ser esclarecido, na perspectiva de percebermos se está na categoria dos fenômenos contra os quais pouco se poderia fazer ou se nos vemos diante de mais uma situação em que irresponsabilidades, imprudências e descasos determinaram uma desgraça.

É notório que o Brasil tem sofrido, nos últimos anos, uma espécie de desmonte nas estruturas públicas de fiscalização de atividades importantes. Alguém precisa explicar, neste caso de Capitólio, por que as embarcações permaneciam ali quando já existia, na ocasião, um alerta de fortes chuvas. No momento inicial, sequer se consegue, das autoridades, uma definição clara sobre quem deveria fiscalizar a área, que era frequentada por milhares de turistas originários de várias partes do País. Sabe-se apenas agora, infelizmente, que não existia um plano de emergência para ser acionado, apesar de toda a movimentação que era observada, em especial nos finais de semana, e da estrutura que existia em função dela.

Outra falha já detectada, e admitida pela prefeitura municipal, é que nunca se fez um estudo de risco geológico da área, anunciando-se, com alguma desfaçatez, que diante do ocorrido será necessário providenciá-lo. Somente agora? Era realmente necessário que uma tragédia acontecesse para adoção de uma iniciativa tão básica? As primeiras descobertas pós-tragédia indicam como muito provável que este seja mais um caso em que esperou-se o pior acontecer para a adoção de medidas de segurança que deveriam fazer parte das preocupações permanentes das autoridades desde sempre. Providência tardia, infelizmente, para as 10 vítimas e suas traumatizadas famílias. n

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