Ainda que Rússia e Estados Unidos tenham negado chances de iniciarem uma guerra aberta ou por procuração em território ucraniano, observadores internacionais e pesquisadores não descartam a possibilidade de que haja conflito, o que obviamente teria custos altíssimos, tanto financeiros quanto de vidas civis e militares.

Três décadas depois do esfacelamento da antiga União Soviética, episódio que demarcou historicamente o fim da Guerra Fria, os dois países encenam atos, porém, que fazem lembrar os momentos de tensão daquele período. Faz parte disso, por exemplo, o teatro atual em torno do qual tanto russos quanto norte-americanos, embora rejeitem publicamente o enfrentamento, atuam explicitamente como se estivessem na iminência de uma batalha. 

Do lado russo, movimentação de tropas e posicionamento estratégico em regiões de fronteira com a Ucrânia, pivô dos desentendimentos e alvo do governo de Vladimir Putin. Mais de 100 mil soldados foram mobilizados pelo Kremlin apenas nas últimas quatro semanas, número que deve aumentar nos próximos dias caso não haja entendimento entre Moscou, Washington e Otan, a aliança militar cujos avanços têm preocupado Putin.

Por parte dos Estados Unidos, três mil militares foram deslocados para o leste europeu, precisamente na Polônia, de modo que a progressiva presença de forças sugere que os atritos escalaram para além das diatribes retóricas, numa série de exercícios de força só comparáveis aos realizados nos tempos de polarização entre comunistas e capitalistas.

Sob pretexto de que apenas reage a pressões norte-americanas, a Rússia tem empreendido avanços sobre territórios de nações que integraram, tempos atrás, a chamada "cortina de ferro", grupo de países-satélites da URSS. Nesse sentido, o governo de Putin apresenta como demanda, a fim de refrear suas investidas, que a Otan não aceite incluir a Ucrânia entre seus membros.  

Já os Estados Unidos de Joe Biden consideram que Moscou está apenas procurando justificativas para invadir o país vizinho, num movimento que, conforme estimativas da inteligência dos EUA divulgadas pela imprensa internacional, teria condições de apear o presidente ucraniano do poder em 48 horas.

Biden, no entanto, tem se demonstrado refratário a qualquer acerto que possa favorecer os russos e passar a imagem, ainda que remotamente, de um presidente fraco, um quadro que poderia eventualmente fortalecer adversários externa e internamente, como Donald Trump.

A perspectiva de uma solução pacífica, contudo, tem de ser buscada a todo preço, com ambas as partes cedendo no que podem, sem prejuízo para sua autonomia e interesses geopolíticos. O fracasso da diplomacia, todos sabemos, resultaria em perdas inestimáveis em meio a um confronto de dimensões e potencial de estrago imprevisíveis, atirando o mundo em incerteza. O arranjo é delicado e as tentativas de diálogo, sensíveis, mas não há saída que não passe pela mesa de negociação.