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Sofia merece justiça
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Editorial opinião

Sofia merece justiça

A manchete do O POVO nesse sábado, 12, contava a medida da crueldade dos últimos momentos de Sofia. "Travesti é assassinada a pedradas em Fortaleza".

Quem indica a motivação desse horror é funcionária de mercantil que Sofia frequentava. "O único fato para não gostarem dela era que ela era travesti. Isso é inaceitável", disse ao O POVO, corroborando com vários relatos sobre Sofia ser uma pessoa alegre e divertida. O nome disso é crime de ódio. Ela foi morta porque negavam a ela o direito de ser.

O corpo de Sofia foi encontrado em terreno na avenida Osório de Paiva, no Bom Jardim. O mesmo bairro foi palco do crime de ódio transfóbico mais marcante da história de Fortaleza. Amanhã, dia 15 de fevereiro, será o aniversário de morte de Dandara dos Santos, que sofreu chutes, socos e pauladas antes de ser levada em um carrinho de mão para ser executada com dois tiros na cabeça. O caso, que também foi manchete do O POVO, ganhou maior repercussão 16 dias depois, quando as cenas de tortura passaram a circular na Internet.

Esses casos não são exceções. No máximo, são os de maior repercussão. Além de Dandara, 15 outras pessoas trans ou travestis foram assassinadas em 2017 no Ceará. A cifra atingiu o ápice em 2020, com 22 homicídios. No ano passado, foram 11. Parece um avanço, mas ainda é a quarta maior marca entre todos os estados do Brasil. E aqueles que mataram mais trans e travestis (São Paulo, Rio de Janeiro e Bahia) têm populações bem maiores.

Apoiado pela ampla cobertura de mídia à época, o caso Dandara teve longa investigação e resultou na condenação de seis pessoas, em dois julgamentos diferentes, em 2018 e 2021.

Sofia, ou a memória dela, merece elucidação do caso. Nenhum assassinato deveria ficar sem solução, mas o cenário tem um peso extra pela invisibilidade enfrentada por pessoas trans e travestis diuturnamente. Se ela não foi ouvida quando viva, que o seja após a morte. Punição não traz ninguém de volta à vida, porém é um alento à família diante da perda.

O Ceará é, segundo estimativa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o oitavo estado mais populoso do Brasil, com por volta de 9,2 milhões de habitantes. Ainda assim, de acordo com dados anuais da Associação Brasileira de Travestis e Transexuais (Antra), a unidade federativa não sai dos quatro líderes em assassinatos dessas minorias desde o início do levantamento, em 2017. Assim, fica evidente a necessidade de políticas públicas específicas para enfrentar a violência de gênero voltada à esta faixa da população LGBTQIA .

Infelizmente, a vida de Sofia não pode mais ser salva. Mas cabe ao Poder Público salvaguardar a segurança de demais pessoas trans e travestis do Ceará. n

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