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Homens que sofrem abusos sexuais
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Editorial opinião

Homens que sofrem abusos sexuais

Reportagem publicada na edição de ontem, assinada pelos jornalistas Cláudio Ribeiro e Lucas Barbosa, revela uma situação dramática, sobre a qual pesa um manto de silêncio. Trata-se do abuso sexual praticado contra pessoas do sexo masculino, que atinge com frequência crianças, adolescentes e até adultos. Como destaca a manchete, o Ceará registra um caso a cada dois dias de abuso sexual contra homens, conforme dados oficiais. É uma situação grave, que exige maior atenção.

Segundo informações da Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS), entre janeiro e março deste ano foram registrados 43 casos de ataques sexuais contra homens, entre os quais abuso, estupro de vulnerável e exploração sexual de menor. Os mais atingidos são crianças e adolescentes até 17 anos, com 74,41% dos registros. Mas também existem casos anotados de vítimas entre 19 e 58 anos de idade.

É preciso levar em conta que o número de agressões sexuais é muito maior do que as denúncias registradas, sendo as vítimas homens ou mulheres. Isso ocorre devido ao medo, ou à "autoridade" que o agressor exerce sobre a vítima, ou ainda à ocultação do assunto, pois a maioria dos casos ocorre no ambiente familiar ou com pessoas conhecidas.

No entanto, quando o assediado é do sexo masculino, os especialistas são unânimes em afirmar que a subnotificação é bem maior. Devido ao machismo, o homem evita assumir a condição de vítima, ou teme ser estigmatizado por homofobia, preferindo sofrer calado. A reportagem traz o depoimento de um homem que foi abusado com oito anos de idade por um amigo da família. Na época, não contou para ninguém, por medo de ser considerado "gay", e só revelou o caso para a mãe 20 anos depois do ocorrido. Hoje ele tem 38 anos de idade.

O tabu em torno dos abuso sexual contra homens é tão forte que a primeira entidade da sociedade civil para oferecer suporte psicológico para essas pessoas no Brasil, a Memórias Masculinas, foi criada somente em setembro de 2020, sendo a única até hoje a prestar esse tipo de assistência. No primeiro ano de funcionamento, segundo seu fundador, Denis Gonçalves Ferreira, a entidade realizou 101 atendimentos, de forma sigilosa para não expor a vítima.

A educação sexual na família, em conjunto com a escola, pode desempenhar papel importante para crianças e adolescentes se protegerem de abusos. Podendo conversar sobre o assunto amigavelmente com os pais e professores, a criança pode entender aspectos da sexualidade e compreender quais os limites entre um gesto amigável e uma invasão à sua privacidade, o que a prepara para se defender de um possível abuso.

O acolhimento é importante para que a vítima não se sinta culpada, e possa receber imediato atendimento psicológico, de modo a evitar que a sua vida seja marcada pelo trauma de um abuso sexual. n

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