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O país dos vexames diplomáticos
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Editorial opinião

O país dos vexames diplomáticos

A área da diplomacia tem sido, no governo de Jair Bolsonaro, uma das mais afetadas negativamente pelo estilo impetuoso e pouco institucionalizado do atual presidente da República no Brasil. Sucedem-se os episódios nos quais tem-se como claro que o desejo pessoal do governante prevaleceu sobre o interesse maior do País, numa inversão de valores que nos impõe uma reflexão profunda sobre o problema e os seus efeitos. Ainda mais, diga-se como reforço, em relação a uma área na qual temos sido referência histórica pela excelência do comportamento sempre adotado no campo sensível da política internacional.

O episódio da vez, na qual o presidente de Portugal, Marcelo Rebelo de Sousa, que está em visita ao nosso País, parece ter sido desconvidado para um almoço em Brasília com seu colega Jair Bolsonaro evidencia o problema e determina que o discutamos de forma séria. Dá-se como motivo da intempestiva decisão do governo brasileiro de cancelar o protocolar encontro entre os dois Chefes de Estado o fato de a agenda de Rebelo prever, antes, reuniões com alguns ex-presidentes, dentre eles Luiz Inácio Lula da Silva, um dos prováveis adversários de Bolsonaro no seu projeto de reeleição em andamento.

As agendas, e interesses, do presidente e do pré-candidato não podem ficar se misturando para determinar, em especial, os passos do governante. É preciso separar as coisas com grande nitidez porque o cargo onde está hoje Jair Bolsonaro, conquistado de maneira legítima no processo eleitoral de 2018, exige dele que se comporte como representante de todos os brasileiros, não apenas de seus eleitores ou simpatizantes, e se submeta a uma convivência com os outros povos e países que precisa estar pautada no respeito às regras que a institucionalidade lhe determina.

É preciso reconhecer que desde a chegada do atual ministro Carlos França ao comando do Itamaraty, o que aconteceu pouco mais de um ano atrás, deu-se uma melhora no quadro em relação à tragédia representada pelo período no cargo do seu antecessor, Ernesto Araújo. Foi uma época na qual a ideologia guiou os passos diplomáticos do governo, oferecendo ao presidente Bolsonaro a oportunidade de agir colocando à frente sua visão de mundo em contrariedade com o que tem sido a postura de um País que, até então, valia-se de uma política de Estado para definir seus posicionamentos diante das situações colocadas. Inclusive, o que é sempre importante destacar, quando dos governos militares entre 1964 e 1985.

É um vexame, mesmo reconhecendo-se o trabalho de reparo de danos que tem sido feito pelo atual chanceler, que o presidente de um país como Portugal, de ligações históricas com o Brasil que nem vale a pena destacar, tal é a obviedade, receba o tratamento que lhe acabou dispensado no caso em questão. O competente quadro técnico formado nas escolas brasileiras de diplomacia está desafiado a, nos próximos anos, com o governo que for, recuperar uma imagem que construímos de País capacitado a fazer parte como protagonista do sofisticado jogo da geopolítica mundial por suas posturas equilibradas, autônomas e independentes. n

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