O que O POVO pensa sobre os principais assuntos da agenda pública
O que O POVO pensa sobre os principais assuntos da agenda pública
É natural que, numa reação imediata, consideremos extravagante o índice de crescimento na quantidade de denúncias de prática de racismo que chegaram à investigação das autoridades policiais do Ceará apontada ontem em reportagem do O POVO. No entanto, trata-se de um quadro que exige um mergulho mais profundo nas análises para se entender, de fato, quais as explicações possíveis para o fenômeno. A primeira pergunta que se impõe é: a sociedade está mais racista ou, ao contrário, decidiu, finalmente, agir com o nível de intolerância que esse tipo de crime requer?
É possível sim imaginar-se que o salto expressivo no número de denúncias de racismo investigadas pela Polícia Civil do Ceará, que passaram de 22 entre janeiro e junho do ano de 2021 para 79 no mesmo período deste 2022, pode ser resultado de uma tomada de consciência da população. Nada que mereça comemoração, longe disso, mas, por outro lado, o primeiro passo necessário para o enfrentamento da situação é expô-la na sua dimensão. A ideia fantasiosa de que o Brasil é um país livre do problema, pela caracteristica ricamente miscigenada de sua população, precisava de um choque de verdade para ser confrontada com o mundo real e há sinais de que podemos estar experimentando os movimentos iniciais nesse sentido.
É um contexto complexo e que também exige que prestemos atenção na advertência feita por quem milita na causa e, por exemplo, aponta ainda como um sério obstáculo a subnotificação, mesmo quando se está diante de um aumento expressivo de denúncias como este agora registrado. A presidente da Comissão de Promoção da Igualdade Racial da seccional cearense da Ordem dos Advogados do Brasil (PABV), Raquel Andrade, posição que a faz lidar com o drama social no seu cotidiano, chega a considerar que talvez seja o tipo de crime mais subnotificado do País. Um dado que se precisa considerar a sério.
Como ponto de partida, os números levantados pela repórter Mirla Nobre e expostos ao leitor do O POVO mostram que há um grande desafio posto diante de quem tem responsabilidade com a vergonhosa situação, na perspectiva de quem precisa combatê-la. É inconcebível, diga-se de início, que existam segmentos da população discriminados por qualquer tipo de diferença que apresentem, na pele, por suas origens e qualquer outra razão que se use como justificativa para oferecer ao outro (ou outra) um tratamento que não seja digno a qualquer pessoa, como base de um mundo civilizado.
O primeiro movimento de reversão do quadro precisa partir do próprio cidadão, é um gesto de cada um com sua própria consciência. A sociedade precisa decidir que não aceita mais conviver com qualquer tipo de situação que denote a depreciação do semelhante simplesmente por suas características de pele, como está explicitado na ação do racista. Feito isso, cabe às autoridades adotarem rigor maior do que há sido observado para apurar os casos denunciados, evidentemente que com todos os cuidados para evitar também o cometimento de injustiça em nome de uma necessidade de dar uma resposta a qualquer preço, se buscar punições que sejam exemplares e sirvam no sentido pedagógico para inibir novas ações baseadas nas mesmas práticas criminosas. n
Ôpa! Tenho mais informações pra você. Acesse minha página e clique no sino para receber notificações.