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5G não pode aprofundar desigualdades
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Editorial opinião

5G não pode aprofundar desigualdades

O dia de hoje marca um momento histórico em Fortaleza: a liberação do sinal de 5G, uma nova geração da Internet móvel que promete revolucionar a economia, a saúde, a educação e o

nosso próprio cotidiano, na medida em que traz mais velocidade na transferência de dados e garante conexões mais estáveis.

De início, a novidade chega a 39 bairros da Capital. Duas operadoras habilitadas para ativar a tecnologia 5G, a Tim e a Vivo, já informaram quais locais serão contemplados nessa fase inicial de implantação. De acordo com a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), até o próximo dia 28 de novembro, período em que vence a obrigação estabelecida no edital do leilão da ferramenta, as duas empresas, juntamente com a Vivo, deverão ter, no mínimo, 102 estações de 5G ativadas em Fortaleza.

Ao mesmo tempo, a euforia do momento deve vir acompanhada da preocupação sobre como o acesso a esse avanço será democratizado para as parcelas mais pobres da população, garantindo inclusão digital de forma efetiva. A pandemia de Covid-19, que exigiu distanciamento social para salvar vidas, jogou luz sobre o abismo que existe no País quando o assunto é Internet. Dependemos cada vez mais dela para estudar, trabalhar, comprar, se comunicar e também se entreter.

Entretanto, números de recente pesquisa realizada pela consultoria PwC e pelo Instituto Locomotiva revelam que, se de um lado, 20% dos brasileiros estão "plenamente conectados", do outro, 20% não têm qualquer tipo de conexão, criando, segundo o levantamento, "cidadãos de segunda categoria". Sem falar nos outros milhões que estão "parcialmente conectados" - 26% - e "subconectados" - 25% -, cenário sombrio que barra oportunidades e aprofunda nossa desigualdade social.

Nesse sentido, a tecnologia 5G não pode surgir para agravar essa situação. É preciso investir pesado em infraestrutura, multiplicar o número de antenas e torres nas regiões mais isoladas, criar programas que facilitem a aquisição de novos aparelhos compatíveis com a mudança, e compreender que, atualmente, a Internet passa a se inserir nos chamados itens essenciais, assim como água, energia elétrica e saneamento básico.

Para isso, será necessária uma forte parceria entre poder público e iniciativa privada, dentro de uma perspectiva de desenvolvimento global, sensível às parcelas menos favorecidas da sociedade. Não dá para falar de "metaverso"; "Internet das Coisas";, "indústria 4.0"; sem antes garantir o básico. Concentrar essa tecnologia significará concentrar renda e conhecimento. É preciso seguir pelo caminho oposto. Só dessa forma teremos um real progresso digital no País, oferecendo um serviço de qualidade para o maior número possível de pessoas, independente da classe social ou da região que habitam. Não há dúvidas de que o 5G será algo muito bom e proveitoso. Mas para quem? n

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