Logo O POVO+
O que aprender com a tragédia de Sobral
Foto de Editorial
clique para exibir bio do colunista

O que O POVO pensa sobre os principais assuntos da agenda pública

Editorial opinião

O que aprender com a tragédia de Sobral

Uma tragédia, sem precedentes no Ceará, aconteceu na quarta-feira na cidade de Sobral, zona Norte do Estado, a 235 km de Fortaleza, preocupando todo o País. Um aluno de 15 anos, armado com uma pistola, entrou na Escola de Ensino Médio Carmosina Ferreira Gomes e abriu fogo contra os colegas, ferindo três estudantes. Um deles levou um tiro de raspão e está fora de perigo; os outros dois estão internados, um deles, em estado grave, foi atingido na cabeça.

A arma utilizada pelo adolescente está registrada em nome de um CAC, sigla para Colecionador, Atirador e Caçador, segmento que passou a ter o direito de comprar verdadeiros arsenais de guerra depois de decretos do presidente Jair Bolsonaro facilitarem a posse e a aquisição de armamento por parte de civis.

O jovem que cometeu o atentado declarou à Polícia que havia premeditado o ataque pelo fato de sofrer bullying por parte dos colegas

Portanto, a situação põe em debate dois temas importantes, sendo que, nesse caso, ambas as questões estão assustadoramente entrelaçadas: a banalização da compra e porte de armas atualmente vigentes e a intimidação ou humilhação a que são submetidos alguns alunos por parte de colegas, com o objetivo de depreciá-los.

Os chamados CACs possuem atualmente um milhão de armas, crescimento de 187%, salto ocorrido durante o governo Bolsonaro. As informações foram divulgadas pelo Exército e obtidas via Lei de Acesso à Informação (LAI) pelos institutos Sou da Paz e Igarapé.

É uma insanidade imaginar que o cidadão armado resolverá o problema da segurança pública, enfrentando bandidos, como defendem os armamentistas. Ao contrário, a violência por qualquer motivo banal, tende a aumentar, afora os acidentes que já aconteceram, alguns deles fatais. Além disso, criminosos estão utilizando brechas na legislação ou utilizando laranjas para comprar rifles legalmente.

Aqui a solução é relativamente simples, para quem quiser enfrentar o problema: basta dar meia volta nessa política irresponsável, desarmando os civis, antes que a violência se dissemine ainda mais, provocando mais tragédias.

Quanto ao bullyng, o assunto é mais complexo, pois envolve o comportamento emocional de adolescentes. Em declaração a este jornal, a psicóloga Ticiana Santiago, doutora em Educação, afirma existir poucos profissionais nas escolas para identificar casos de comprometimento mental, aumentando a dificuldade em lidar com o "repertório socioemocional" dos jovens.

Para ela, é preciso criar uma rede de escuta e apoio como forma de prevenir o bullyng ou "ressignificar" a experiência de quem é atingido, para que não "internalize"a dor. Segundo Ticiana, sem esses mecanismos, corre-se o risco de a vítima transformar-se em "abusador", o que pode redundar em consequências trágicas, como se viu.

Que essa terrível experiência, portanto, ajude a educadores e a sociedade a refletirem sobre esses dois temas. n

 

Foto do Editorial

Ôpa! Tenho mais informações pra você. Acesse minha página e clique no sino para receber notificações.

O que você achou desse conteúdo?