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Bolsonaro e o Nordeste
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Editorial opinião

Bolsonaro e o Nordeste

Tipo Opinião

Se o presidente Jair Messias tivesse um mínimo de dignidade e respeito pelo cargo que ocupa, teria pedido desculpas ao Nordeste pelas grosserias com as quais brindou a região durante a sua atividade parlamentar e na chefia do Executivo. Poderia aproveitar a data de hoje, oito de outubro, quando se comemora o Dia do Nordestino para retratar-se de suas ignomínias.

Inconformado por ter perdido o primeiro turno no Nordeste, tendo seu adversário Luiz Inácio Lula da Silva obtido 67% dos votos na região, ele atribuiu seu fracasso a uma suposta falta de letramento dos nordestinos: "Lula venceu em nove dos 10 estados com maior taxa de analfabetismo. Você sabe quais são esses estados", perguntou para ele mesmo responder: "No nosso Nordeste".

Essa associação é, obviamente, repleta de preconceitos, que precisam ser rechaçados. Com efeito, declarações do tipo provocam dano terrível ao estimular a enxurrada de vídeos com despautérios sobre a região que circula nas redes sociais.

Impossível não lembrar que o Nordeste é o local no qual florescem as principais experiências educacionais do País. O Ceará transformou-se em referência nacional quando o assunto é alfabetização e, não à toa, conseguiu a proeza de emplacar as 87 das 100 melhores escolas públicas nos anos iniciais do ensino.

Já Pernambuco é referência nacional quando o tema é ensino médio integral. Analisados apenas os municípios, Teresina é a capital do País com o melhor índice de qualidade da educação, de acordo com o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB). No ensino superior vale lembrar que o Ceará é, de longe, o estado que mais aprova estudantes no rigoroso vestibular do ITA, instituição que o presidente certamente há de reconhecer a excelência. Não obter maioria dos votos em uma região como essa, portanto, deveria ser motivo de reflexão pela equipe da campanha presidencial, jamais de ataques.

Infelizmente, esta não é a primeira vez que o presidente demonstra preconceito com a região. Ele tem se mostrado historicamente contra os programas de complementação de renda, que beneficiam principalmente as áreas mais pobres. Já disse, por exemplo, ser impossível encontrar "uma pessoa no Nordeste para trabalhar na sua casa, porque, se for trabalhar, perde o Bolsa Família".

Bolsonaro só mudou de comportamento às vésperas das eleições, diante da possibilidade de impulsionar sua aprovação com aumento do valor do Auxílio Brasil. É isso que expõe sua falta de consciência, pois crê que os beneficiados deveriam agradecer-lhe de joelhos. Ao fim do mandato, diante do momento crucial do segundo turno, ele resolveu dizer que é o "presidente de todos os brasileiros", mas não consegue se conter. Infelizmente, continua a medir as pessoas e regiões que compõem o Brasil com a sua régua distorcida pela intolerância e pelo preconceito. 

 

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