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A injustificável viagem de Bolsonaro
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Editorial opinião

A injustificável viagem de Bolsonaro

É certo que a etapa difícil será vencida, mas o comportamento do presidente da República ao longo de todos esses dias, agora reforçada com a equivocada opção por não participar da solenidade de passagem de poder, certamente lhe será cobrado um dia pela história
Tipo Opinião

O Brasil, tem-se falado aqui constantemente, experimenta uma das fases de transição de poder mais críticas de sua história política recente. Desde 30 de outubro, data em que foi concluído o processo eleitoral e anunciada a vitória de Luiz Inácio Lula da Silva na disputa pela Presidência da República, uma sucessão de eventos preocupantes tem exposto uma resistência dos derrotados, a começar de quem tentava reeleição para o cargo, Jair Bolsonaro, em reconhecer o resultado como legítimo.

Nesse contexto é que vieram as manifestações de desagrado com a situação, até inicialmente legítimas na medida em que expressavam uma decepção de parcela do eleitorado que preferia um outro desfecho para o processo e nisso nada há de reprovável. Era, no entanto, apenas o ponto de partida de uma mobilização que avançaria para o inaceitável, inclusive com o registro de ações de caráter criminoso, como em relação à pauta golpista do apelo por uma intervenção militar, a violência desmedida da noite do último dia 12 nas ruas de Brasília e, mais recentemente, a descoberta de um plano de fazer explodir uma bomba acoplada a um caminhão que transportava combustíveis no movimentado aeroporto da capital do País.

Um quadro geral muito determinado pelo comportamento de Bolsonaro, que se mantém calado diante de todos esses fatos e segue até hoje sem reconhecer, de público e oficialmente, a derrota eleitoral. O último ato dele reforça o seu absoluto descompromisso com a democracia, ao decidir que estará fora do País no dia em que o seu sucessor assumirá o cargo que hoje ocupa, ou seja, quebrará uma tradição de passagem de faixa que tem integrado o rito das posses presidenciais.

Uma atitude pequena, de quem, um episódio após o outro, demonstra despreparo para a alta função que as urnas o levaram a exercer nos últimos quatro anos como mandatário principal do País e que o faz, neste momento, um dos fiadores principais de sua fragilizada democracia. A viagem anunciada de Jair Bolsonaro para o exterior consolida a postura de ausência deliberada que adotou em relação ao debate que se seguiu à eleição, alimentando o quadro de insegurança política que há predominado, infelizmente, ao longo de todo o conturbado processo de transição.

É certo que a etapa difícil será vencida, mas o comportamento do presidente da República ao longo de todos esses dias, agora reforçada com a equivocada opção por não participar da solenidade de passagem de poder, certamente lhe será cobrado um dia pela história. É uma atitude que não respalda o discurso insistente que tenta sustentar como defensor de valores democráticos como um autêntico objetivo de vida.

 

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