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A destruição das chuvas e a emergência climática
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Editorial opinião

A destruição das chuvas e a emergência climática

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O desastre que se abateu sobre o litoral norte do estado de São Paulo, no qual já se contam 48 mortes e cerca de 60 desaparecidos, não pode ser considerado apenas uma inesperada tragédia provocada pelas chuvas e temporais, pois são acontecimentos que se repetem anualmente por todo o País com uma frequência aterradora.

Os períodos de tempestade são previsíveis, acontecem normalmente nas mesmas épocas do ano, provocando deslizamentos de terra, interdição de pistas, destruição de casas, como se pode observar em noticiário de anos precedentes. Portanto, não se pode culpar a natureza pela desídia das autoridades sobre os quais recai a responsabilidade de, pelo menos, atenuar esses problemas de modo a se evitar tanto sofrimento e tantas mortes. Os locais dessa mais recente tragédia não dispõem nem mesmo de um sistema de alerta, como sirenes ou envio de mensagens, para avisar os moradores em caso de perigo.

Dados da MapBiomas, divulgados pelo jornal O Estado de S. Paulo, mostram que a urbanização crescente em quatro cidades do litoral norte de São Paulo é onde se concentra a maior parte das vítimas das chuvas. A área urbanizada mais do que quadruplicou desde 1985.

O aumento do preço dos terrenos termina por empurrar a população pobre para áreas de maior risco, nos morros e sopés das serras. Mas não são apenas as pessoas de baixa renda que ocupam espaços que deveriam estar protegidos de construções. Como se pôde observar agora, condomínios de luxo também foram atingidos por inundação, com as águas invadindo residências.

Outra questão que precisa ser levada em conta, mas é pouco discutida, é o aquecimento global, que vem produzindo fenômenos extremos em todo o mundo. Segundo disse Carlos Nobre, à plataforma jornalística Congresso em Foco, "o aumento da temperatura global está diretamente atrelado às catástrofes no litoral brasileiro". Nobre é meteorologista e climatologista de referência mundial em mudanças climáticas, pesquisador sênior do Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo (IEA-USP) e diretor científico do Instituto de Estudos Climáticos da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes).

O pesquisador alerta que, caso não haja redução do lançamento de gases de efeito estufa na atmosfera, neste ano "teremos o recorde de emissões no planeta, vamos manter o aumento da temperatura e esses fenômenos que vivenciamos hoje serão brincadeira perto do futuro". Para Nobre, evitar a escalada do aquecimento global é o maior desafio até agora enfrentado pela humanidade.

É urgente que esse assunto se popularize de modo que as pessoas fiquem cientes de um problema que parece um tanto distante de suas vidas cotidianas, como se isso nas as afetasse diretamente. Se mais gente tomasse consciência da gravidade do problema, a pressão sobre as autoridades seria maior, aumentando as chances de que os líderes mundiais cheguem a um acordo que possa deter os risco de o mundo tornar-se inabitável, pois é exatamente isso que está em jogo. n

 

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