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Crime ambiental nas praias de Itarema e Amontada
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Crime ambiental nas praias de Itarema e Amontada

Um grave crime ambiental, com possível participação de uma facção criminosa, vem sendo praticado, desde o fim do ano passado, em uma faixa de mangue nas praias das cidades de Itarema e Amontada, separadas pelo rio Aracatiaçu, no litoral Oeste do Ceará. Em territórios que abrangem as duas cidades existem 17 assentamentos rurais federais em terras da União, desapropriadas desde 1995. A investigação jornalística dessa irregularidade demorou três meses, com a publicação, na edição de ontem, da segunda reportagem da série, assinada pelo jornalista Cláudio Ribeiro.

Segundo mostra o trabalho jornalístico, dentro de área de preservação permanente, grandes trechos de mangue foram destruídos, atingindo pelo menos cinco "berçários" de peixes e crustáceos, e a mata nativa foi arrancada com tratores ou serrada. O objetivo seria abrir estradas para atender a supostos interesses de projetos turísticos.

Não bastasse a violência contra o meio ambiente, moradores de comunidades locais vêm sendo ameaçados pelos criminosos. Enquanto alguns evitavam conversar com o repórter, outros falavam sob a garantia de anonimato, temendo pela integridade física. O jornalista chegou a ser alertado por moradores a ter cuidado, pois o local estaria "perigoso".

Um relatório técnico da Secretaria Municipal do Meio Ambiente, Turismo e Cultura (Sematurc) de Itarema anota que uma das estradas abertas "atravessa uma zona fechada de mangue virgem, assim como uma área extensa de apicum e salgado (tipos de bioma), ambos protegidos pela legislação federal".

Esse mesmo relatório, assinado por um biólogo, uma geógrafa, e pelo titular, na época, da Sematurc, Talles Walker, assinala que "no conteúdo das denúncias e conversas com a comunidade, in loco, detectou-se possível interferência de agentes ligados a facções do crime organizado envolvidas em tal ação", alertando para a necessidade de uma atividade conjunta das forças policiais para investigar a situação. Walker foi exonerado do cargo no início de março.

Segundo registra a reportagem, também participam das investigações a Polícia Civil, a Polícia Federal, os Ministérios Públicos Federal e Estadual, além da "apuração de outros órgãos na esfera administrativa". Ainda estariam acompanhando o caso o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) e a Secretaria de Coordenação e Governança do Patrimônio da União (SPU).

Com todos esses órgãos investigando uma obra que, a olhos vistos, contraria a legislação ambiental, incorrendo possivelmente de outros crimes, ainda não foi identificado nenhum responsável pelas agressões aos biomas. O fato é que a costa cearense sofre de uma espécie de abandono pelas autoridades, deixando à mercê de espertalhões e criminosos o meio ambiente e as populações litorâneas. n

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