O que O POVO pensa sobre os principais assuntos da agenda pública
O que O POVO pensa sobre os principais assuntos da agenda pública
Nas periferias de Fortaleza o convívio com as facções criminosas já se tornou um dado da realidade, há muito tempo, sendo que moradores não têm como se defender do controle imposto pelos criminosos, que determinam o comportamento da comunidade em todos os aspectos da vida cotidiana. Impõe-se a lei do silêncio, exige-se lealdade ao grupo dominante, limita-se o direito de ir e vir, cobra-se pedágio de comerciantes. Nem mesmos serviços públicos essenciais, como escolas e postos de saúde, ficam a salvo do banditismo, sem que as autoridades consigam pôr freio a essas ações ou proteger devidamente os residentes, que precisam trabalhar, estudar ou socorrer-se em um posto médico.
O Conselho Regional de Medicina do Ceará (Cremec), conforme informou este jornal na edição de ontem, fez levantamento indicando um "cenário de violência" em pelo menos oito Unidades de Atendimento em Atenção Primária à Saúde (Uaps), atribuindo o problema à falta de policiamento e à "territorialização" das facções criminosas. A entidade médica cita como exemplo o posto Luís Franklin, no bairro Coaçu, no qual aconteceram quatro assaltos à mão armada no período de quatro meses, entre abril e dezembro do ano passado.
A atividade das facções dificulta também a movimentação de equipes para visitar pacientes, conforme revelou uma profissional da saúde do posto Terezinha Parente, no bairro Lagoa Redonda, que fica no entorno de uma área em disputa por facções rivais. Ela diz que "em momento de perigo maior" as equipes evitam transitar pelos locais. Um dos sintomas de que há controle por grupos criminosos é que pacientes e funcionários dos postos recusaram-se a conversar com a reportagem; os que falaram pediram para permanecer no anonimato.
O relatório do Cremec foi enviado à Secretaria Municipal da Saúde (SMS) e à Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social do Ceará (SSPDS), com pedido de providências. Questionada a SMS, enviou uma nota ao jornal afirmando que "busca soluções para fortalecer a segurança nas unidades de saúde", em conjunto com a Guarda Municipal de Fortaleza (GMF), que já faz patrulhamento nas unidades de saúde. Do mesmo modo, SSPDS afirmou que iria reforçar a ronda já realizada nas áreas próximas às Uaps.
O fato é que a coerção chegou a tal estágio que essas providências serão insuficientes para resolver o problema da insegurança a que estão submetidos o público e servidores nas unidades de saúde. Tanto é que o retorno obtido dos órgãos oficiais são respostas burocráticas, que não indicam planejamento que possa levar à superação desse estágio de violência, que assusta a todos.
É de se destacar que a solução para esses distúrbios não é fácil e, mesmo reconhecendo-se o esforço para combatê-los, não se pode afastar a responsabilidade das autoridades sobre esse estado de coisas, que exige atuação mais rigorosa dos poderes municipal e estadual. n
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