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Edifício São Pedro: o descaso com a história
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Editorial opinião

Edifício São Pedro: o descaso com a história

A degradação da estrutura dificulta a preservação do Edifício São Pedro. Tanto se deixou que o mau estado de conservação piorasse que ele, de fato, chegou a níveis complicados de possibilidade de reversão
Tipo Opinião

Afamada por ser uma cidade que não cuida do seu patrimônio, Fortaleza continua fazendo jus à reputação. O descaso que toma conta do histórico Edifício São Pedro, prédio localizado na Praia de Iracema, é prova de que o abandono e a falta da devida importância ao espaço resultaram na situação que ora se impõe - a ausência de solução definitiva sobre o que fazer com o edifício.

Há alguns dias, o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) rejeitou o pedido de tombamento federal do prédio. Apontou que, mesmo reconhecendo o valor cultural do imóvel, a estrutura não tem "elementos suficientes para a identificação de representatividade nacional para a memória, a identidade, a história e a formação da sociedade brasileira nos moldes do Decreto-Lei no 25/1937". O parecer técnico faz menção à legislação brasileira de preservação do patrimônio histórico e cultural para fundamentar o indeferimento do pedido.

Em março de 2022, o Governo do Ceará chegou a decretar a desapropriação do local para a construção de um Distrito de Economia Criativa. À época, o Iphan ainda analisava o pedido de tombamento federal. De acordo com o projeto do Estado, a previsão era de que o espaço acomodasse atividades como artesanato, design, artes visuais, música e cultura popular. Na última sexta-feira, porém, novo decreto foi publicado revogando a medida.

O fato é que parece não se saber o que fazer com o imóvel. É impossível pensar em deixá-lo como está, entregue ao desleixo de uma cidade que não executa ações efetivas de manutenção de vínculos com o seu patrimônio cultural nem discute iniciativas exitosas com a população. Entregá-lo à sanha comercial privada, ansiosa por multiplicar superprédios pela Capital, não parece um ato bem pensado de uma metrópole que teria a preservação como um princípio forte. Restaurá-lo a esta altura, em uma situação que expõe graves problemas estruturais, soa inexequível.

Assim, a degradação da estrutura dificulta a preservação do Edifício São Pedro. Tanto se deixou que o mau estado de conservação piorasse que ele, de fato, chegou a níveis complicados de possibilidade de reversão.

A estrutura está condenada pela Defesa Civil de Fortaleza desde 2014, quando o órgão indicou "risco iminente de colapso" por causa da grave deterioração no local. Desde então, não há melhorias. O prédio se tornou abrigo para pessoas em situação de rua e tem sido alvo frequente de saqueadores.

Isso tudo é um lamentável processo de desatenção com a história ao se considerar que o Edifício São Pedro foi a primeira construção vertical da Praia de Iracema, nos idos de 1951. Até 1970 era chamado de Iracema Plaza Hotel e operava com 75% da capacidade destinada a hóspedes. Depois, tornou-se exclusivamente residencial e ganhou o nome de Edifício São Pedro.

Assim, o valor histórico-cultural, aliado às transformações pelas quais passaram algumas estruturas da Cidade, parece ter ficado restrito a determinados grupos que mantêm interesse pelo assunto. A preservação da história, fundamental para a formação cultural de um povo, vai sendo amainada pelo descaso de uma cidade que não educa seu povo a cuidar daquilo que é história e, portanto, parte de um todo para o avivamento da memória.

 

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