Logo O POVO+
Marina sofre violência de gênero no Senado
Foto de Editorial
clique para exibir bio do colunista

O que O POVO pensa sobre os principais assuntos da agenda pública

Editorial opinião

Marina sofre violência de gênero no Senado

É preciso uma ação mais assertiva dos presidentes das duas casas legislativas para punir com rigor esse tipo de comportamento

O Senado é, ou deveria ser, a casa do equilíbrio, na qual as divergências devem ser expostas com urbanidade. Por isso, não pode passar sem consequências o episódio acontecido na terça-feira na audiência na Comissão de Infraestrutura do Senado. É preciso que o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP), se manifeste e tome providências firmes para evitar esse tipo de acontecimento, que depõe contra o Congresso Brasileiro.

Convidada à comissão, a ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva, respondia a perguntas sobre a criação de uma unidade de conservação e também sobre o asfaltamento da BR-319, que liga Porto Velho (RO) a Manaus (AM). Mas a sessão tornou-se palco de agressões verbais, sexismo, machismo, misoginia e de violência política de gênero contra Marina.

Do senador Marcos Rogério (PL-RO), que presidia a sessão — do qual se esperava um mínimo de isenção na condução dos trabalhos, cortava todas as tentativas de fala da ministra, enquanto ela insistia. Rogério então exprimiu um "ponha-se em seu lugar", recebendo uma resposta certeira: "O senhor queria que eu fosse uma mulher submissa, mas eu não sou".

Mas o show de horrores ainda não havia terminado. O senador Plínio Valério (PSDB-AM) conseguiu tornar pior o que já era péssimo, ao dizer que iria "separar a mulher da ministra", pois respeitava a primeira e não a segunda. Marina reagiu afirmando ser impossível separar a ministra da mulher, exigindo desculpas de Valério.

Ela ainda lembrou que, em março, o senador declarou, em um evento com empresários no Amazonas, que seria difícil tolerar a ministra por muito tempo sem sentir vontade de "enforcá-la". Depois, como de costume em casos assim, disse ter sido uma "brincadeira".

Após mais de três horas de debate, em meio a hostilidades, com a má vontade do presidente da mesa em relação a ela, pouco apoio entre os membros da comissão — e com a recusa do senador Valério em pedir desculpas, Marina retirou-se da comissão.

São comuns no Congresso violência política de gênero, como ocorreu na nomeação Gleisi Hoffmann como ministra das Relações Institucionais, quando foi atacada pelo deputado Gustavo Gayer (PL-GO), sugerindo que ela formaria um "trisal" com outros congressistas.

Se todas as mulheres sofrem com o machismo e a misoginia, as maiores vítimas são as deputadas transsexuais, como Duda Salabert (PDT-MG) e Érika Hilton (Psol-SP), ambas mulheres trans, que são alvos frequentes de transfobia e machismo.

A violência política de gênero é um desafio constante enfrentado pelas mulheres no Congresso. E isso precisa mudar, com uma ação mais assertiva dos presidentes das duas casas legislativas, para que tal comportamento seja punido com rigor.

 

Foto do Editorial

Análises. Opiniões. Fatos. Acesse minha página e clique no sino para receber notificações. Acesse minha página e clique no sino para receber notificações.

O que você achou desse conteúdo?