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Depoimento ao STF não ajuda Bolsonaro
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Editorial opinião

Depoimento ao STF não ajuda Bolsonaro

O resumo é que o ex-presidente, por um lado, nada ganhou bajulando Alexandre de Moraes e, por outro, pode ter a credibilidade abalada em suas próprias bases

O depoimento mais esperado entre os réus da tentativa de golpe de Estado, entre outros crimes, era de Jair Bolsonaro, que aconteceu na terça-feira. Especulava-se que haveria confronto entre o relator do processo, ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), e o ex-presidente, o que acabou não acontecendo.

Pode-se dizer que, pelo menos uma vez em sua carreira política, Bolsonaro seguiu o conselho, desta vez de advogados, de que ele só teria a perder caso assumisse um comportamento agressivo.

Assim, o Bolsonaro que sentou-se no banco destinado aos réus, ao lado de seu advogado, parecia outra pessoa, comparando com o conhecido até agora, habituado aos arroubos e respostas agressivas.

É de se lembrar que Moraes já foi categorizado por Bolsonaro e seus aliados como "ditador", "canalha" e "carrasco" — e não faz muito tempo. Além disso, do ponto de vista do ex-presidente, ele estaria submetido a uma perseguição política do STF, acusado injustamente dos crimes que lhes são imputados.

Por isso, houve exagero na composição do personagem, que soou falso. Mais do que calmo e educado, Bolsonaro pareceu subserviente, tentando demonstrar uma proximidade que nunca teve com Moraes, pedindo licença para fazer brincadeiras, tratando o relator como "meu ministro" e pedindo-lhes desculpas por ataques anteriormente desferidos.

Se Bolsonaro leva a sério que é um perseguido político, deveria apresentar-se perante a Corte com mais sobriedade, demonstrando até certa indignação, comportamento mais apropriado a quem se diz vítima de uma injustiça.

O pior para o ex-presidente é que sua atitude em nada melhora a situação dele perante a Corte — de posse de uma avalanche de provas da tentativa de golpe —, e pode provocar reações negativas entre os bolsonaristas radicais.

Pelo menos algum incômodo haverão de sentir aqueles que atenderam aos comandos de Bolsonaro, quando ele agredia verbalmente o STF, especialmente o ministro Alexandre de Moraes, e punha em dúvida a lisura das eleições, desferindo ataques às urnas eletrônicas.

Além disso, durante o interrogatório, Bolsonaro chamou de "malucos" os seguidores que, incentivados por ele, saíram às ruas para pedir "intervenção militar", de modo a mantê-lo no poder, mesmo com a derrota eleitoral. Negou ainda que tenha incentivado os atos golpistas de 8 de janeiro: "Não teve estímulo da minha parte a fazer nada de errado", disse.

O resumo é que Bolsonaro, por um lado, nada ganhou bajulando Alexandre de Moraes e, por outro, pode ter a credibilidade abalada em suas próprias bases que, até hoje, lhe ofereceram apoio incondicional.

 

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