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Uma questão de soberania
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Editorial opinião

Uma questão de soberania

A preocupação de Washington é justamente a motivação do Brics: a construção de um mundo multipolar, em que o Sul Global tenha mais importância

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva acertou ao responder com assertividade à tentativa do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de intervir em temas internos do Brasil, um assunto que está sob julgamento do Supremo Tribunal Federal (STF).

Sem referir-se diretamente à Corte, mas cujo endereçamento não deixa dúvidas, Trump escreveu em uma rede social que "o Brasil está fazendo uma coisa terrível" com Jair Bolsonaro. Segundo essa interpretação bizarra, o ex-presidente seria perseguido, "dia após dia, noite após noite, mês após mês, ano após ano! Ele não é culpado de nada, exceto por ter lutado pelo povo", escreveu Trump.

Em entrevista coletiva ao fim da cúpula do Brics, na segunda-feira, Lula disse que não ampliaria seus comentários, mas que não aceitaria "palpites" estrangeiros sobre assuntos internos.

Antes, ele já havia declarado que o Brasil é um país soberano, que não aceita interferência ou tutela "de quem quer que seja", acrescentando que "possuímos instituições sólidas e independentes. Ninguém está acima da lei, sobretudo os que atentam contra a liberdade e o estado de direito".

Breve retrospectiva lembra não ser esta a primeira vez que a Casa Branca interfere diretamente em um país soberano, intimidando inclusive com o uso da força militar. Trump já ameaçou "tomar" a Groenlândia (região autônoma da Dinamarca) e o Canal do Panamá, e também "anexar" o Canadá.

Várias ações de Trump demonstram disposição de executar o que ele verbaliza, contrariando a tese de que seria apenas uma "tática de negociação".

Assim, mesmo não estando presente na cúpula do Brics — os Estados Unidos não fazem parte do bloco —, Trump terminou sendo uma das principais pautas da cúpula, ao fazer ataques diretos ao grupo. Ele ameaçou com taxação de 10% os produtos de países que se alinharem "às políticas antiamericanas do Brics".

O presidente Lula reagiu dizendo não ser "correto" que Trump ameace países pela internet — e que o mundo não precisa de um "imperador". A China avisou que "as tarifas não devem ser usadas como ferramenta de correção e pressão" — e que o Brics defende a "cooperação ganha-ganha".

Os integrantes do grupo reafirmaram que o seu propósito é defender a cooperação multilateral, e que o grupo não se caracteriza como anti-Ocidente ou antiamericano, mas tem como objetivo fortalecer a liderança dos países emergentes.

Mas tudo indica que os ataques de Trump ao Brics — como ele faz com todos os organismos multilaterais —, são de tal monta que tornará difícil a convivência entre o bloco e os EUA. A preocupação de Washington é justamente a motivação do Brics: a construção de um mundo multipolar, em que o Sul Global tenha mais importância.

 

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