
O que O POVO pensa sobre os principais assuntos da agenda pública
O que O POVO pensa sobre os principais assuntos da agenda pública
O número de homicídios caiu 16,6% no primeiro semestre no Ceará. O percentual, isoladamente, indica um avanço claro. Contextualizada, porém, a cifra expõe o longo caminho que ainda falta percorrer na segurança pública. Entre janeiro e junho de 2024, foram registrados 1.714 Crimes Violentos Letais e Intencionais (CVLIs) — uma margem tão alta que, paradoxalmente, facilita reduções percentuais.
Nesse sentido, é acertada a postura cautelosa e reservada adotada pelo governador do Ceará, Elmano de Freitas (PT), diante da queda dos índices de letalidade no Estado. Afinal, foram 1.429 vidas ceifadas de forma violenta em apenas seis meses. Cada avanço é significativo, mas não se pode perder de vista o caráter urgente de uma situação calamitosa.
Elmano foi preciso ao afirmar que o índice "sai do altíssimo para o alto". A população não precisa de discursos eleitoreiros ou da celebração de tragédias menores, mas sim de compromisso com a resolução de um problema extremamente complexo. A animação com uma tendência de queda deve sempre ser recebida com ponderação — assim como qualquer oscilação negativa. É necessário compreender o quadro geral.
O cenário da segurança pública é de difícil solução em todo o Brasil, especialmente com a expansão de grupos criminosos. No Ceará, que sofre tanto com facções de dimensão nacional quanto com aquelas surgidas no próprio Estado, a situação é ainda mais complexa. Há uma disputa constante pelo controle do poder paralelo e dos territórios dominados pelo crime, o que transforma a população em refém e impõe ao Governo a necessidade de investimentos contínuos em ações efetivas.
Em entrevista exclusiva ao O POVO, no último dia 15 de julho, Elmano se comprometeu a manter os investimentos em pessoal, destacando a necessidade de duplicar o efetivo da Polícia Civil em relação a 2023. O foco na investigação pode evitar uma nova escalada de violência.
As ações governamentais, no entanto, não devem ser isoladas. O papel do Estado é central na segurança pública, mas as prefeituras, o Governo Federal, o Judiciário e o Legislativo também precisam convergir em iniciativas conjuntas. O combate à criminalidade não cabe apenas às polícias. É necessário promover ação social, inclusão, oportunidades, distribuição de renda, desenvolvimento sustentável, cultura, esporte e lazer.
É fundamental, hoje, que o Estado compreenda os dados com os quais trabalha. Que realize um diagnóstico preciso sobre onde avançou e por quais motivos. Que replique e adapte estratégias bem-sucedidas a outros territórios e contextos nos quais os números seguem alarmantes. Em junho, por exemplo, o número de homicídios cresceu em Fortaleza.
Reiteradamente, Elmano classificou os dados como "insuficientes". Com razão. A comparação se dá com 2023, quando o Ceará teve o quarto maior número de homicídios entre todos os estados do Brasil.
O avanço é relevante, dentro de todos os contextos. Mas cada vida perdida é uma tragédia familiar a mais. O número aceitável de homicídios é sempre o mesmo: zero. n
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