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Agressão à democracia
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Editorial opinião

Agressão à democracia

Bolsonaristas e seus aliados sequestraram o Congresso Nacional para impor uma pauta que interessa somente a uma família, por acaso, a do ex-presidente Jair Bolsonaro

O espetáculo deprimente que aconteceu na Câmara dos Deputados não tem paralelo na história do Brasil, pelo menos desde a redemocratização do País. Deputados bolsonaristas e seus aliados impediram fisicamente o início da sessão que estava marcada para as 20h30min, que começou por volta das 23h.

Após horas de negociação, o presidente da Câmara Hugo Motta (Republicanos-PB) teve dificuldade para ocupar sua cadeira, pois o deputado Marcel Van Hatten (Novo-RS) recusava-se a desocupar o assento.

No entanto, com o clima tensionado ao extremo, gritos e empurra-empurra entre os deputados, a sessão resumiu-se a um discurso de Motta apelando para o diálogo. Mas ele foi econômico na repreensão aos colegas que agrediram as normas básicas de funcionamento do Parlamento, um ataque à democracia. o presidente disse apenas que o bloqueio do plenário "não fez bem à Casa".

A obstrução física promovida pelos bolsonaristas havia começado na segunda-feira, quando os trabalhos do Congresso deveriam recomeçar depois do recesso de julho. No entanto, os plenários da Câmara e do Senado foram ocupados em protesto contra a prisão domiciliar do ex-presidente Jair Bolsonaro.

Para sustar a invasão, o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), apresentou exigências como anistia aos envolvidos nos atos golpistas de 8 de janeiro, o fim do foro especial por prerrogativa de função e o impeachment do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF).

Ou seja, os bolsonaristas sequestraram o Congresso Nacional para impor uma pauta que interessa apenas a uma família, por acaso, a do ex-presidente Jair Bolsonaro.

Depois do encerramento da sessão de quarta-feira, com o fim da ocupação, o líder do PL na Câmara, Sóstenes Cavalcante (RJ), disse que a Câmara iria pautar a anistia aos participantes da tentativa de golpe e a questão do foro. O acordo teria sido possível somente depois da intervenção do ex-presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL). No entanto, o líder do PT, Lindbergh Farias (RJ), disse que Motta não se comprometeu com essas propostas.

A lembrar que espera os congressistas uma pauta que interessa, não apenas a uma família, mas a todo o País. Estão na fila aguardando a boa vontade suas excelências propostas como a isenção do imposto de renda para salários até R$ 5 mil e medidas provisórias próximas do prazo de vencimento.

O Senado também foi liberado e o presidente Davi Alcolumbre (União-AP) dirigiu ontem uma sessão remota, a partir da mesa diretora.

Hugo Motta precisa agora recuperar sua autoridade para se contrapor à chantagem bolsonarista e mostrar que está à altura do cargo que ocupa. Foi lamentável a forma como ele conseguiu reocupar a cadeira da Presidência, emparedado por uma leva de bolsonaristas, que nem ao menos atenderam os seus insistentes pedidos para saírem a plataforma de trabalho da Mesa Diretora.

 

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