
O que O POVO pensa sobre os principais assuntos da agenda pública
O que O POVO pensa sobre os principais assuntos da agenda pública
É necessário, e parece até um pouco tardio na perspectiva de uma sociedade que busca alinhamento com a realidade do seu tempo, o debate que o Grupo de Comunicação O POVO tem levantado, numa série recente de matérias, acerca da presença das mulheres na política. Os números mostram que o espaço ocupado não consegue reproduzir a força objetiva que elas apresentam, por exemplo, no conjunto do eleitorado. Quanto ao peso do voto, mesmo.
A representatividade está baixa, longe de espelhar a força simbolizada pelo fato de 52,4% da população apta ao voto no Brasil serem mulheres, mas, conforme demonstrado em reportagem assinada por Mariana Lopes, precisa ser motivo de preocupação ainda maior o fato de as representantes femininas ocupando os vários postos serem vítimas cotidianas de violência de gênero. São ataques quase diários que se acumulam sem que as punições correspondentes, quando acontecem, funcionem no seu caráter inibidor.
Trata-se de um problema complexo, conforme aponta conclusão de estudo realizado pela Procuradoria Especial da Mulher da Assembleia Legislativa, no qual foram ouvidas 104 parlamentares cearenses entre janeiro e agosto de 2024. Os resultados são assustadores como retrato da realidade que precisamos enfrentar: 60% delas, para citar uma situação, afirmaram ter sofrido violência de gênero, mas somente 16% se sentiram suficientemente seguras para denunciaram os casos.
O quadro levantado pelo núcleo do parlamento estadual aponta silenciamento, descredibilização da fala, intimidação com gritos, xingamento e calúnia, violência por meio das redes sociais e invisibilização política. Tudo isso em ambientes políticos, públicos, envolvendo gente respaldada por mandatos que o voto lhes garantiu, o que dá peso ainda mais negativo ao cenário e permite que se projete algo muito mais dramático nos ambientes domésticos ou laborais, nas relações profissionais etc, com espaço de repercussão mais reduzido.
Claro que não se deve fechar os olhos para o fato de que já vivemos quadros piores, mesmo que o ritmo da melhora seja ainda muito distante do que se pode apontar como ideal. Por exemplo, o Ceará foi, nas eleições de 2022, o estado do Nordeste com maior número de mulheres eleitas para Câmaras Municipais, o que não deixa de ser um sinal de avanço para o qual devemos estar atentos. Na comparação com quatro anos antes, em 2020, 4,3% a mais, numa boa performance numérica que não se consegue traduzir em mudança de cultura, infelizmente.
Ações afirmativas são fundamentais para que o processo se acelere, a aplicação séria de uma política de cotas já em vigência certamente vai garantir ritmo adequado à mudança que entendemos necessária, mas, acima de tudo, reverter um quadro marcado ainda por tantos desafios exige envolvimento de todos, homens e mulheres. Uma sociedade equilibrada não tolera desigualdades ou injustiças que, muitas vezes, se tenta justificar apenas por uma condição de gênero, na política ou em qualquer outra atividade. n
O que O POVO pensa sobre os principais assuntos da agenda pública. Acesse minha página e clique no sino para receber notificações.