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A violência que atinge os servidores públicos
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Editorial opinião

A violência que atinge os servidores públicos

As agressões não se limitam ao serviço público, mas atingem também outros tipos de atividade que dependem do contato interpessoal.

O Mapeamento das Defensoras e Defensores Públicos do Ceará, realizado pela primeira vez no Estado, detectou alto índice de agressões, físicas e verbais, sofridas por esses profissionais no exercício de seu trabalho.

O levantamento foi realizado pela Cuali Pesquisa, a pedido da Associação dos Defensores e Defensoras Públicas do Estado do Ceará (Adpec). Foram realizadas 170 entrevistas, 91 em Fortaleza e 79 em cidades do interior. A maioria desses defensores atua nas áreas criminal (41,2%) e cível geral (35,3%). No total, a categoria é composta por cerca de 360 defensores, atuando em 102 dos 184 municípios cearenses.

Os dados levantados mostram que 61,8% dos defensores relataram ter sofrido algum tipo de violência, física ou moral, durante o trabalho. Outros 31,2% foram vítimas de ameaça direta ou a alguém da família, devido às suas atividades. Apenas 34,1% disseram que sentem segurança no ambiente de trabalho.

Não existem pesquisas específicas que revelem mais a fundo os motivos que levam a essas agressões, mas algumas causas — que não justificam a violência contra aos servidores públicos —, podem ser levantadas, como a falta de profissionais e de estrutura para receber quem precisa de algum serviço, gerando filas e demora no atendimento.

Registre-se ainda o inegável aumento da tensão social que atinge a sociedade brasileira, levando a que as pessoas se tornem cada vez mais intolerantes a qualquer frustração, explodindo por qualquer motivo. Normalmente, sofre quem está na ponta do serviço, que é responsabilizado indevidamente por um problema que ele não pode resolver.

Observe-se que o mapeamento aponta fragilidades na estrutura de apoio ao trabalho dos defensores, com 72,9% considerando insuficiente o número de profissionais. Ademais, 54,7% precisam compartilhar as salas de atendimento com outros colegas, comprometendo a privacidade do serviço.

Recentemente o programa Fantástico, da Rede Globo, revelou uma escalada de agressões contra profissionais de saúde. Pesquisa mostra que 80% deles reclamam já terem sido vítimas de algum tipo de agressão no local de trabalho: xingamentos, violência física e até ameaças de morte.

E a violência não se restringe ao serviço público, mas atinge também outros tipos de atividade que dependem do contato interpessoal, como os entregadores de aplicativo, por exemplo. É assustadora a quantidade de agressões gratuitas que se pode observar nas redes sociais e no noticiário, atingindo profissionais das mais diversas áreas.

A situação está a merecer um olhar mais cuidadoso das autoridades. No mínimo, torna-se necessário criar uma rede de apoio aos profissionais que sofrem a violência e buscar formas de minimizar os problemas estruturais, de modo que prevaleça a convivência pacífica entre profissionais e usuários do serviço público.

 

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