
O que O POVO pensa sobre os principais assuntos da agenda pública
O que O POVO pensa sobre os principais assuntos da agenda pública
Como é tradição, o presidente do Brasil abre a Assembleia-Geral da ONU. Já em solo norte-americano, Luiz Inácio Lula da Silva discursa nesta terça-feira (23) em atmosfera de tensão global na esteira da guerra entre Rússia e Ucrânia e em meio à deterioração das relações comerciais e diplomáticas com o presidente Donald Trump, que fala em seguida.
Os desafios são muitos e os riscos, diversos, cabendo ao mandatário brasileiro contornar as arestas com os Estados Unidos, atuando para reduzir dissensos e contendo o ímpeto de converter a tribuna da ONU em palanque. Por outro lado, Lula deve firmar posição inequívoca em defesa da soberania nacional, da democracia e do multilateralismo.
Mesmo que não troquem sequer uma palavra, e não surpreenderá a ninguém se isso acontecer, este será o primeiro encontro entre Lula e Trump em ambiente comum desde que o magnata chegou novamente à Casa Branca. O clima entre os dois não é dos melhores, como se sabe, em grande medida por responsabilidade do chefe dos EUA, que aplicou sobretaxa de 50% às exportações do Brasil por razões indisfarçavelmente políticas.
Não bastasse, o governo estrangeiro vem tentando embaraçar a autonomia das instituições nacionais, notadamente do Supremo Tribunal Federal, exercendo pressão desarrazoada sobre membros da corte, a exemplo de Alexandre de Moraes, alvo da lei Magnitsky.
Há no ar ainda a ameaça de novas medidas, agora em resposta à condenação do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), um aliado de primeira hora do trumpismo. Se isso ocorrer durante a passagem de Lula pela ONU, as consequências podem ser imprevistas, sobretudo para a delegação brasileira presente à agenda, que ficaria submetida a uma situação de total constrangimento.
Mas não se duvide de que Trump seja capaz de anunciar represálias em seu pronunciamento. Dias antes de seu embarque, ministros da gestão petista não haviam tido seus vistos liberados, como se deu com Alexandre Padilha, da Saúde, que acabou desistindo da viagem após vexatórias restrições de circulação em Nova York.
Daí que o discurso de Lula tenha assumido papel mais importante do que em anos anteriores. A depender do seu tom, pode desanuviar ou agravar o momento, que se segue a um julgamento no qual uma tentativa de golpe de Estado foi exposta e rechaçada por um Judiciário independente.
Fora do âmbito local, chame-se a atenção para o protagonismo brasileiro na rearticulação de países do cone Sul, driblando as imposições de uma administração que vai costeando o alambrado da autocracia, perseguindo adversários e sufocando as liberdades de pesquisa e produção intelectual naquilo que antes era a maior democracia do mundo.
Logo, quer pelo viés nacional ou pelo internacional, a participação do Brasil na assembleia da ONU está cercada de expectativas. Que o país saiba aproveitar a oportunidade para, sem provocações nem proselitismo, reafirmar sua independência. n
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