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Lula fala ao mundo e manda recados a Trump
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Editorial opinião

Lula fala ao mundo e manda recados a Trump

A Assembleia da ONU pôde assistir ao discurso de um estadista, confrontando-se com a retórica de um populista com vezo autoritário

Um encontro de 39 segundos, entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e seu homólogo americano Donald Trump, foi dos pontos mais comentados do primeiro dia da Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU).

Em seu discurso, Trump disse que havia se encontrado com Lula nos bastidores, que se abraçaram, tendo havido "ótima química" entre eles. Ele ainda anunciou que, na próxima semana, pretende encontrar-se com Lula para negociar as pendências entre os dois países.

Observando-se a instabilidade que move o comportamento de Trump, o seu convite à negociação tanto pode ser um rompante, a ser logo esquecido, ou um interesse legítimo em superar os problemas tarifários que ele impôs ao Brasil.

Além disso, a diplomacia brasileira precisa cercar-se de todo o cuidado para que o encontro, caso se realize, não se transforme em uma armadilha para Lula, como já aconteceu com outros mandatários que se encontraram com Trump.

Mas o fato é que o presidente americano fez o convite após ter acompanhado o discurso de Lula, no qual ele fez críticas duríssimas aos Estados Unidos. Ainda que o mandatário brasileiro não tenha citado nenhum nome ou país, ninguém tinha dúvida de que o endereço era a Casa Branca.

Lula fez veemente defesa da soberania nacional, repelindo a pressão que Washington vem fazendo sobre o governo brasileiro na tentativa de livrar o ex-presidente Jair Bolsonaro das penas às quais ele foi condenado pelo Supremo Tribunal Federal (STF), que também sobre sanções. Mas o recado está dado: "A agressão contra a independência do Poder Judiciário é inaceitável".

Falando aos chefes de Estado, Lula disse que o mundo assiste à "consolidação de uma desordem internacional", com atentados à soberania, sanções arbitrárias e intervenções unilaterais". Para ele, existe um "evidente paralelo entre a crise do multilateralismo e o enfraquecimento da democracia".

O discurso do presidente brasileiro, apesar de tocar em algumas questões internas, preocupou-se com assuntos internacionais. Lula procurou falar para o mundo, em alinhamento com os propósitos da ONU. Foi aplaudido quando lembrou o sofrimento do povo palestino: "Nada, absolutamente nada, justifica o genocídio em curso em Gaza".

Em tudo oposto ao que viria falar Trump, que negou o aquecimento global, cobriu-se de autoelogios, contou mentiras e disse que merecia um prêmio Nobel da Paz. Chegou ao ponto de recordar um episódio de quando era empresário e perdeu o contrato para a reformar o prédio das ONU, sugerindo que houve corrupção. Em resumo, Trump usou a tribuna das nações unidas para agradar a sua bolha.

Assim, o mundo pôde assistir ao discurso de um estadista, confrontando-se com a retórica de um populista com vezo autoritário.

 

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