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Quem responde pelo desmatamento?
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Editorial opinião

Quem responde pelo desmatamento?

A Semace atribui a responsabilidade à Seuma — e o Ibama, por sua vez, só ficou sabendo da supressão vegetal depois que o mal já estava feito

Para iniciar a construção de um centro logístico, foram devastados 32 hectares de floresta no entorno do aeroporto Pinto Martins, administrado pela Fraport Brasil.

A denúncia foi feita pelo vereador Gabriel Aguiar (Psol) ao Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), lembrando que na área existem trechos da mata atlântica.

O superintendente do Ibama no Ceará, Deodato Ramalho, em entrevista ao O POVO, manifestou "muita surpresa". Segundo ele, a Aerotrópolis Empreendimentos, responsável pela obra, suprimiu a vegetação sem esperar a avaliação dos documentos apresentados ao Ibama.

Por sua vez, a Aerotrópolis dispõe de autorização de supressão vegetal, emitida pela Superintendência Estadual do Meio Ambiente (Semace), que seria sustentada por um certificado da Secretaria Municipal do Urbanismo e Meio Ambiente de Fortaleza (Seuma), atestando a adequação do projeto ao Plano Diretor da cidade.

Em síntese, a Semace isenta-se do desmatamento, atribuindo a responsabilidade à Seuma — e o Ibama, por sua vez, só ficou sabendo do problema depois que o mal já estava feito.

Mas quem autorizou o desmatamento? Está dentro da legalidade?

O titular da Seuma, João Gabriel Rocha, admite pelo menos uma possível irregularidade. Em entrevista ontem à rádio O POVO CBN, ele disse que irá investigar se a Aerotrópolis realizou corretamente o manejo da fauna que vivia no local.

É difícil entender por que alguns órgãos públicos se mexem para tomar providências somente depois que alguma irregularidade se torna pública. Será que cabe às entidades que cuidam do meio ambiente somente o trabalho de examinar a papelada? Autorizada uma obra, confia-se que tudo será feito segundo as normas, sem fiscalização?

São tristemente comuns a destruição do que resta de natureza no ambiente urbano, muitas vezes irregularmente ou sem cuidado algum com a fauna local.

Foi assim em 2011, quando foram arrancadas árvores que cobriam uma quadra na avenida Santos Dumont para dar lugar a um empreendimento imobiliário. O corte da vegetação provocou uma debandada de soins e aves que habitavam o local, sem que houvesse preocupação com os animais.

Quanto à Fraport, não é a primeira vez que a concessionária do aeroporto se envolve em polêmicas ambientais. Em 2024, os organizadores do carnaval fora de época em Fortaleza anunciaram parceria com a Fraport para construir a Cidade Fortal em um terreno de 20 hectares no sítio do aeroporto, em local diferente do que está agora em questão.

Para fazer as obras, também seria necessário desmatar um grande trecho do espaço. Na época, foi também o vereador Gabriel Aguiar que se manifestou contra o empreendimento. O movimento para deixar as árvores em pé tornou-se tão forte que fez os organizadores da micareta recuarem, voltando a festa para o seu local de origem.

 

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