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Fraca punição a vereador incentiva práticas violentas e criminosas
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Editorial opinião

Fraca punição a vereador incentiva práticas violentas e criminosas

Ao evitar uma punição exemplar, o Conselho de Ética da CMFor incentiva que práticas do tipo voltem a se repetir — e, com elas, que o sistema democrático seja deturpado pela incivilidade

É vergonhosamente pífia a punição decidida no Conselho de Ética da Câmara de Municipal de Fortaleza (CMFor) contra o vereador Inspetor Alberto (PL). Por associar o Partido dos Trabalhadores (PT) a facções criminosas, o conselho decidiu puni-lo somente com uma advertência escrita.

Os comportamentos do vereador têm sido a verdadeira antítese dos esperados por um representante do povo em uma democracia. As tensões e as discordâncias partidárias são comuns e até previstas no sistema democrático, mas nunca devem ultrapassar o limite da civilidade. Com a punição definida pelo Conselho de Ética, a CMFor acaba comunicando que, apesar de não ser bem-visto, é possível ir além do aceitável para manipular a opinião pública.

Fortaleza enfrenta uma nova fase na segurança pública com os conflitos entre as facções criminosas. O povo vira refém dos caprichos de grupos faccionados que desejam controlar a Capital no objetivo de expandir o tráfico de drogas em um ponto estratégico. A cobertura do O POVO tem retratado esse cenário, dos foguetórios aos esquemas de tráfico desmantelados nos portos cearenses.

O filme Guerra Sem Fim: Facções e Política, investigação jornalística do núcleo Audiovisual do O POVO, por exemplo, também desvenda as conexões entre o crime organizado e o poder político no Ceará. Eis, portanto, a gravidade da acusação do vereador Inspetor Alberto: relacionar diretamente qualquer partido às facções sem provas e sem investigação é, no mínimo, totalmente irresponsável. Adverti-lo por escrito é proporcionalmente inadmissível.

Não ajuda o fato de o vereador já ter se envolvido em outras manifestações violentas e criminosas contra os opositores. Às vésperas do segundo turno de 2024, no dia 27 de outubro, foi o mesmo Inspetor Alberto que apareceu em vídeo maltratando um porco para, com pouca sutileza, sugerir violência contra o, na época, adversário político eleitoral Evandro Leitão, do PT.

Na ocasião, ele vestia um colete balístico com adesivo da campanha do então candidato André Fernandes (PL). Enquanto carregava e derrubava bruscamente o porco, o vereador dizia: "Você vai para a panela [...] Desgraçado, você vai para a panela dia 27. Vou comer você assadinho".

Quatro dias antes, no dia 23 de outubro, circulou um vídeo no qual o Inspetor Alberto gritava "Leitão, filho da p***, tu vai para a churrasqueira. Prepara teu caixão, vagabundo", durante um evento da campanha de André Fernandes. Ele foi indiciado pelos dois episódios, mas o Conselho de Ética arquivou a representação por avaliar que ele não poderia responder a casos ocorridos no mandato passado.

Ao evitar uma punição exemplar, o Conselho de Ética da CMFor incentiva que práticas do tipo voltem a se repetir — e, com elas, que o sistema democrático seja deturpado pela incivilidade.

 

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