O que O POVO pensa sobre os principais assuntos da agenda pública
          O que O POVO pensa sobre os principais assuntos da agenda pública
Um conjunto de pesquisas cujos resultados têm sido divulgados nos últimos dias apontam um apoio majoritário da população à postura da polícia e do governo do Rio de Janeiro, uma semana atrás, quando uma megaoperação em área dominada pelo Comando Vermelho resultou em 121 mortes. Quatro delas, ressalte-se, de agentes da força pública.
Surpreende pouco, na verdade, que o brasileiro em geral, mais do que apenas o cidadão carioca e fluminense, demonstre cansaço com o quadro crítico de segurança pública. Os números captados pelos institutos de pesquisa são incontestáveis: o Datafolha apontou apoio de 57% dos moradores do Rio à operação nos Complexos do Alemão e da Penha, pelo Atlas Intel o índice salta a 59,2% e no Instituto Paraná cresce ainda mais e chega a 69,9%.
Sem contar com outras demonstrações práticas de que a ação das forças policiais, apesar da estatística macabra, está sendo recebida com forte apoio popular. No último domingo, por exemplo, o governador Cláudio Castro (PL), que tem ignorado o número absurdo de mortes para apontar o que considera "sucesso da operação", foi entusiasticamente aplaudido ao participar, como é de sua rotina dominical, de missa na Barra da Tijuca. Ironia das ironias, o motivo daquela celebração era o Dia de Finados.
Parece reação natural de um povo que vive assustado diante de demonstrações permanentes de ousadia das organizações criminosas, inclusive exercendo controle cada vez mais intenso sobre territórios das nossas cidades. Quando o Estado sai de sua aparente letargia e se faz impor, claro que o sentimento geral, até por impulso muitas vezes, é de apoio e aprovação. Com entusiasmo, inclusive, como demonstra a efusiva recepção ao governador em ato religioso, apesar da violência absurda envolvida.
Acontece que o quadro é muito mais complexo e não comporta o caminho do simplismo como saída mais adequada. Até que se alcance o estágio que se pode entender como aceitável, dentro de uma sociedade civilizada, ainda há muito por fazer e, de início, parece importante que haja transparência absoluta nas investigações para que não paire dúvidas quanto à real necessidade de tantas mortes acontecerem numa só ação.
As autoridades, do Rio de Janeiro e do País, não podem se deixar contagiar pelo clima destes dias e precisam manter o foco em estratégias de médio e longo prazos, em geral menos espetaculares do que essa da semana passada, e que priorizem a inteligência como marca principal de atuação do Estado.
A resposta oficial violenta às vezes é inevitável e não pode ser ignorada como uma das opções a fazer uso dentro de um objetivo mais amplo que se busque. O episódio exige uma profunda reflexão e não comporta qualquer gesto que indique resignação de governantes ou governados. Há como ser diferente e devemos nos esforçar mais para que assim o seja. n
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