O que O POVO pensa sobre os principais assuntos da agenda pública
O que O POVO pensa sobre os principais assuntos da agenda pública
Reportagem publicada na edição de ontem, assinada pela jornalista Lara Vieira, mostra um drama que atinge centenas de mulheres adolescentes no Ceará.
Com o impactante título "Em 2025, uma menina com menos de 14 anos deu à luz a cada dia no Ceará", a repórter conta a história dessas crianças que geram outras crianças, sem que o corpo e a mente estejam preparados para que elas se tornem mães.
Segundo dados do Sistema de Informação sobre Nascidos Vivos (Sinasc), os partos de menores de 14 anos no Ceará caíram de 979 em 2021 para 662 em 2024, queda de 32%. De janeiro a setembro deste ano foram registrados 370 partos, equivalente ao índice de 1,3 por dia.
Em Fortaleza também houve queda de 32,5%, passando de 206 casos em 2020 para 139 em 2024. Até setembro deste ano foram 139 partos nessa faixa etária.
Apesar da redução do número de mães adolescentes, ainda é um grave problema social e de saúde pública, que impacta a vida dessas jovens mulheres.
A ginecologista Zenilda Vieira Bruno, chefe da Divisão Médica da Maternidade Escola Assis Chateaubriand (Meac-UFC), explica que a gravidez precoce traz riscos graves tanto à saúde física quanto emocional das adolescentes. Quanto mais jovem a mulher, diz a médica, "maior o risco de hipertensão, pré-eclâmpsia, hemorragia, infecção e até de morte durante o parto. Os riscos emocionais são ainda maiores, porque essas meninas, em geral, não têm apoio familiar".
Ou seja, essas meninas deixam de viver a adolescência, uma fase importante da vida. A maioria das acolhidas na Meac tem baixa escolaridade e abandonam a escola quando engravidam. É o caso de uma adolescente entrevistada que disse ter deixado a escola "por vergonha", quando começou a ser criticada por estar grávida.
Os dados mostram que, no Ceará, ocorre uma queda consistente de gravidezes na faixa etária dos 14 anos desde 2017, indicando um trabalho consistente de prevenção em nível estadual. Em todo o Brasil, também se observa redução nos índices, com 17,5 mil casos em 2020, número que passou para 11,9 mil em 2024, queda de 31,8%.
A gravidez na adolescência é um fenômeno que acontece em todo o mundo, especialmente nos países mais pobres. Além dos riscos à saúde da mãe e do bebê, há um impacto profundo na vida dessas jovens, normalmente de famílias vulneráveis e de baixa escolaridade.
Portanto, é preciso continuar o trabalho, combinando política de educação e de assistência, orientando as adolescentes a como se prevenir de uma gravidez indesejada. É preciso cortar esse circuito, que leva cerca de 30% dessas jovens a terem o segundo filho ainda na adolescência — e evitar que outras tenham o primeiro, sem estarem em condições físicas e psicologicamente de passarem por um parto e de assumir a maternidade.
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