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O desafio de viver com meio salário mínimo
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Editorial opinião

O desafio de viver com meio salário mínimo

A reforma tributária e a isenção de IR para quem ganha até R$ 5 mil, compensando com a cobrança de impostos dos super-ricos, apontam alguns caminhos para o início da redução das desigualdades
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Dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) apontam que 43,5% das famílias cearenses vivem com renda média per capita de até meio salário mínimo. A média nacional de famílias que vivem nessa condição precária é de 25,68%.

O mais grave é que essa situação pouco evolui, caracterizando uma condição de "pobreza crônica", como classifica, em entrevista a este jornal, a professora Alessandra Araújo, economista e pesquisadora do Laboratório de Estudos sobre a Pobreza da Universidade Federal do Ceará (LEP/UFC).

Ele lembra que esse recorte refere-se ao censo de 2022, mas que, comparando com a atualização da Pesquisa Nacional de Amostra por Domicílio (Pnad), verifica-se que a realidade não evolui o suficiente. "Somos um Estado muito pobre, dependente de programas sociais", diz ela.

A dimensão do problema pode ser avaliada quando se observa que 50,9% dos lares brasileiros onde faltam alimentos têm renda per capita até meio salário mínimo (Pnad-2023). São famílias que convivem com a insegurança alimentar moderada ou grave.

Mas, é preciso reconhecer que, mesmo com um grande contingente da população cearense sobrevivendo em condições precárias, houve avanços na redução da extrema pobreza, com queda de 7,9% nos últimos dois anos, o menor patamar desde que o IBGE iniciou a série histórica da Pnad.

O que contribui para minorar as dificuldades das famílias de baixa renda são os benefícios sociais, oferecidos por governos estaduais e federal, e programas de transferência de renda, como o Bolsa Família. Essas iniciativas desempenham papel de grande importância para evitar a pobreza absoluta e a fome. No entanto, apesar do necessário socorro que eles propiciam, não conseguem resolver as questões estruturais que deixam as famílias vulneráveis, e não conseguem reduzir significativamente as desigualdades.

Recentemente O POVO publicou notícia mostrando que o 1% mais rico da população do Ceará tem a renda média anual de R$ 570,9 mil, concentrando 21,1% da renda disponível bruta (RDB) do Estado. Os dados são de um estudo realizado pelos economistas Frederico Nascimento Dutra, Priscila Kaiser Monteiro e Sérgio Wulff Gobett, utilizando as declarações de Imposto de Renda de Pessoa Física (IRPF) de 2017 a 2023. O resultado não chega a surpreender, pois o Brasil é conhecido como um dos países de maior concentração de renda do mundo, com o 1% mais rico ficando com 28,3% da renda total do país.

A reforma tributária e a isenção de IR para quem ganha até R$ 5 mil, compensando com a cobrança de impostos dos super-ricos, apontam alguns caminhos para o início da redução das desigualdades, mas o caminho ainda é muito longo.

 

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