O que O POVO pensa sobre os principais assuntos da agenda pública
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É difícil entender por que o chanceler alemão, Friedrich Merz, fez uma crítica tão ácida, eivada de preconceito contra o Brasil e, mais especificamente, à cidade de Belém, onde se desenrola a COP30, com a participação de 170 países e a presença de 50 mil pessoas de diversas partes do mundo.
De volta à Alemanha, falando em um evento para empresários, ele discursou dizendo que os alemães viviam em um dos países mais bonitos do mundo, e emendou: "Perguntei a alguns jornalistas que estiveram comigo no Brasil na semana passada: 'Quem de vocês gostaria de ficar aqui?' Ninguém levantou a mão. Todos ficamos contentes por regressar à Alemanha, sobretudo daquele local onde estávamos (Belém).
Não que o Brasil ou a organização da COP estejam isentos de críticas, mas existem canais diplomáticos e linguagem apropriada para fazer referências a um país amigo, ainda que duras. O mais provável é que o chanceler estivesse querendo agradar o público interno, fazendo uma comparação depreciativa para destacar uma suposta superioridade da Alemanha.
O modo perverso como Merz fez a referência ao Brasil e a Belém revela arrogância e desprezo por um país e uma região que, em vez de serem parte do problema climático, são essenciais à sua solução. O chanceler deveria saber que a visão restrita propiciada pelos poucos dias em que esteve em Belém, em plena floresta amazônica, é insuficiente para um julgamento sumário como o que ele fez.
Coube ao prefeito de Belém, Igor Normando (MDB), repor as coisas no lugar, lembrando, em vídeo divulgado em uma rede social, que a amazônia "ajudou o mundo inteiro a respirar", destacando ser preciso ter "empatia" com o povo da floresta, que contribui para "com equilíbrio e sustentabilidade" das florestas.
Depois da repercussão negativa da fala do chanceler, o ministro do Meio Ambiente da Alemanha, Carsten Schneider, disse que o Brasil é "um país maravilhoso", lamentando não poder ficar mais tempo após a COP". E emendou: "Teria algumas ideias, por exemplo, pescar com os meus amigos da Amazônia", em uma resposta bem-humorada a Merz, que disse ter se sentido feliz por voltar rapidamente à Alemanha.
Mas o fato é que as críticas do chanceler da Alemanha não terão nenhum efeito negativo sobre as propostas que estão em debate na Conferência sobre as Mudanças Climática, que ainda segue. A Alemanha mesmo já se comprometeu a investir uma soma "considerável" no Fundo Florestas Tropicais para Sempre (TFFF), lançado na COP pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
O discurso inepto de Merz também não será capaz de abalar as relações entre Brasil e Alemanha, mas seria muito bem-vindo um pedido de desculpas do chefe do governo alemão.
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