Logo O POVO+
Desafio de viver mais e melhor
Comentar
Foto de Editorial
clique para exibir bio do colunista

O que O POVO pensa sobre os principais assuntos da agenda pública

Editorial opinião

Desafio de viver mais e melhor

Comentar

A expectativa de vida no Brasil teve leve aumento em 2024, chegando agora a 76,6 anos, de acordo com o levantamento mais recente do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), divulgado na última sexta-feira, 28.

Entre homens (73,3 anos) e mulheres (79,9 anos), porém, segue havendo disparidade nos índices, sobretudo por causa da violência e da maior probabilidade de morte em ambiente de trabalho.

Aos 19 anos, por exemplo, os jovens têm 3,4 vezes mais chances de não atingirem os 20 em relação às mulheres situadas nesse mesmo espectro etário. No intervalo entre 20 e 24 anos, essa estimativa salta para 4,1, caindo para 3,5 na faixa entre 25 e 29 anos.

O quadro evidencia que a defasagem entre os gêneros no que diz respeito à expectativa de vida embute um grave problema de criminalidade, cujas vítimas são principalmente jovens negros.

Disso se conclui que o brasileiro vive mais, sim, mas, a depender da etnia, da escolaridade e da classe, essa variável pode se elevar ou ficar abaixo da média nacional. Ou seja, o Brasil produz riqueza e avança em muitas áreas, mas segue distribuindo desigualmente os dividendos dessas conquistas.

Essa clivagem é fundamental para compreender os desafios que a melhora apresentada nesse tipo de estudo enseja. Desde 1940, a projeção de longevidade dos brasileiros foi progressivamente crescendo, totalizando mais de três décadas de ganho de vida. Foram mais de 31 anos que se somaram aos pouco mais de 40 que eram então a expectativa naquela época.

Nesse período, o país se urbanizou e democratizou a educação, reduzindo o fosso social. Houve também outros marcos importantes, a exemplo da expansão do ensino superior e a consolidação de campanhas sanitárias e de vacinação que fizeram cair drasticamente a mortalidade infantil. Tudo isso foi vital para que os brasileiros vivessem mais.

Resta, porém, um obstáculo imenso pela frente ainda: a desigualdade. Mesmo com tendência de diminuição na concentração de renda, com os 40% mais pobres encurtando a distância dos mais ricos, esse ritmo é extremamente lento. No ano passado, o índice de Gini, que afere a desigualdade numa escala de zero a 1 (na qual o zero é o cenário sem desigualdade e o 1 o máximo de desigualdade), foi o menor da série histórica do IBGE (0,506).

O painel geral, portanto, é de melhora gradual, mas numa velocidade inferior àquela desejada para atenuar diferenças históricas e estruturais. Se se considerar gênero e raça, os parâmetros de desigualdade e violência se depreciam, com retrocessos em muitos segmentos.

Uma leitura possível é que, a despeito do indicativo positivo na renda e na expectativa de vida, o Brasil continua sendo um país profundamente desigual. Delfim Netto, que foi ministro da Fazenda na ditadura militar, costumava dizer que era preciso fazer o "bolo crescer para depois dividi-lo". Infelizmente, passado tanto tempo, uma parcela da população ainda não foi beneficiada com o seu pedaço. n

Foto do Editorial

O que O POVO pensa sobre os principais assuntos da agenda pública. Acesse minha página e clique no sino para receber notificações.

O que você achou desse conteúdo?