O que O POVO pensa sobre os principais assuntos da agenda pública
O que O POVO pensa sobre os principais assuntos da agenda pública
A atitude do deputado Gláuber Braga (Psol-RJ) em ocupar a cadeira do presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta, na tentativa de impedir a votação do projeto de lei da "dosimetria", é indefensável. No entanto, os eventos que se seguiram revelaram o completo despreparo de Motta para um cargo da importância que ele ocupa, o segundo na linha de sucessão da Presidência da República.
Na tentativa de mostrar autoridade, Motta mandou a Polícia Legislativa retirar Braga à força da cadeira que ocupava indevidamente. Sem levar em conta os antecedentes de um caso pior do que este, poder-se-ia considerar essa solução razoável, se houvesse fracassado uma negociação para Braga sair pacificamente.
As ordens de Motta, no entanto, não se restringiram ao deputado rebelde. Ele também proibiu a presença de outros parlamentares no plenário e, em ato aberto de censura, mandou cortar o sinal da TV Câmara e ordenou a saída dos jornalistas do recinto. Assistiu-se então a um festival de violências, incluindo agressões físicas a profissionais da imprensa, algumas delas praticadas pelo chefe de segurança da Câmara, subordinado direto de Motta.
Parlamentares também foram agredidos. O deputado Rogério Correia (PT-MG) disse que pelo menos seis deles sofreram agressões físicas por seguranças, por isso, entrarão com queixa-crime contra Motta.
Como sempre acontece em casos assim, sobram explicações frágeis, que não resistem aos fatos. Mota negou que houvesse mandado cortar o sinal da TV e disse que vai apurar "possíveis excessos" praticados pela Polícia Legislativa. Mas o "excesso" começou por Motta, pois foi ele que determinou a retirada dos jornalistas do recinto, uma atitude autoritária, incabível, em uma democracia, que não admite o cerceamento do trabalho jornalístico dos meios de comunicação.
Tanto entidades que representam as empresas de comunicação, quanto as associações profissionais emitiram notas condenando com veemência as agressões contra jornalistas.
É de se lembrar o comportamento contraditório de Motta que, em um caso mais grave do que o atual, eve uma atitude de tolerância com parlamentares de direita. Aliados de Jair Bolsonaro, eles invadiram e ocuparam a mesa diretora da Câmara por dois dias, em agosto, exigindo que o PL da Anistia fosse votado para beneficiar o ex-presidente.
O esforço, a pressa e a truculência comandadas por Motta no episódio atual tinham um motivo: o Centrão queria aprovar a qualquer custo o PL da Dosimetria, o que aconteceu a toque de caixa na madrugada de quarta-feira. O projeto reduz significativamente a pena a que foram condenados integrantes da organização que tentou golpear o Estado Democrático de Direito.
Esses fatos demonstram que o presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta, ainda tem muito a fazer para provar que está à altura do cargo que ocupa.
O que O POVO pensa sobre os principais assuntos da agenda pública. Acesse minha página e clique no sino para receber notificações.