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Artigo - "Adão e Eva, Terra Plana e Rolha..."
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O jornalista Eliomar de Lima escreve sobre política, economia e assuntos cotidianos na coluna e no Blog que levam seu nome. Responsável por flashes diários na rádio O POVO/CBN e na CBN Cariri.

Artigo - "Adão e Eva, Terra Plana e Rolha..."

Com o título "Adão e Eva, Terra Planee Rolha... a quem interessa a idiotização do mundo?", eis artigo de Haroldo Barbosa, analista de sistemas e jornalista filiado à Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (ABJI). Ele analisa o cenário brasileiro e a Era Bolsonarista. Confira:
Tipo Opinião
No dia em que Brasil atinge um milhão de casos de coronavírus, Bolsonaro volta a minimizar efeitos da pandemia no país (Foto: Mauro Pimentel, AFP)
Foto: Mauro Pimentel, AFP No dia em que Brasil atinge um milhão de casos de coronavírus, Bolsonaro volta a minimizar efeitos da pandemia no país

Em seu livro “Ideias para adiar o fim do mundo”, Ailton Krenak, uma das lideranças indígenas mais respeitadas do país e Doutor Honoris Causa pela Universidade Federal de Juiz de Fora, afirmou: “Se existe uma ânsia por consumir a natureza, existe também uma por consumir subjetividades - as nossas subjetividades.”

Esta tem sido uma das necessidades vitais do capitalismo, que hoje se mostra com maior voracidade.
É por isso que ideias absurdas e obscurantistas são divulgadas, prosperam e ajudam a alavancar o crescimento da extrema direita e do fascismo mundo afora. Se você acredita que a terra é plana, que o nazismo e o fascismo são ideologias de esquerda, que vacina é prejudicial ou que a “ideologia de gênero” existe e visa destruir a “família”, se torna muito mais fácil convencê-lo(a) de que governos petistas distribuíam o “kit gay/mamadeira de piroca”, que a Covid-19 não passa de uma gripezinha, que Bolsonaro está combatendo a corrupção e é contra o sistema ou que não há aquecimento global como resultado da ação humana. Também é neste terreno que prosperam as fake news.

Assim, o presidente, seus ministros, filhos e apoiadores, se empenham em criar um verdadeiro pandemônio, intensificado durante a pandemia, espalhando notícias falsas e ideias absurdas. Verdadeiras cortinas de fumaça que vão mutilando a já muito debilitada capacidade crítica das pessoas. Os exemplos são vários. Cito somente três, mas são milhares:

- Eduardo Bolsonaro afirma que "61% do nosso território mantém a mesma vegetação dos tempos de Adão e Eva" (encurtador.com.br/iOZ05);

- Movimento de extrema direita defende golpe militar e rolha no ânus para evitar coronavírus (encurtador.com.br/txFW8);

- Olavo de Carvalho: não há nada que refute que a Terra é plana (encurtador.com.br/pBNOT);

Os algoritmos, que hoje controlam e divulgam as narrativas que mais agradam as corporações que os criaram (Google, Facebook, Amazon...), são usados principalmente nas redes sociais para mapear aqueles mais vulneráveis a este tipo de mensagem e levar até eles com precisão esses conteúdos. Sob o neoliberalismo, a comunicação com o outro e até com nós próprios, entrou em declínio. Há décadas que a arte do diálogo vem sendo perdida. Hoje vivemos o colapso da atenção, que ocorre quando a quantidade de informação oferecida é maior que o tempo disponível para a análise do que é informado com a concentração devida. As conversas se dão em boa parte através de emojis padronizados e “memes”. O sujeito, que tem sua opinião embasada pelo que recebe nos grupos do WhatsApp, se acha preparado para opinar sobre qualquer assunto e ao assistir a um vídeo de 10 minutos no Youtube, se sente capaz de desqualificar quem estudou e pesquisou sobre um tema por 20 ou 30 anos.

Uma socialização sem sociedade

O sistema econômico fundado no isolamento é uma produção circular do isolamento. O isolamento fundamenta a técnica, e, em retorno, o processo técnico isola. Do automóvel à televisão, todos os
bens selecionados pelo sistema espetacular são também as suas armas para o reforço constante das condições de isolamento das ‘multidões solitárias’…”. Guy Debord escreveu isto no seu livro “A sociedade do Espetáculo” há mais de 50 anos. Permanece extremamente atual e a Covid-19 piorou isso. “A pandemia deu lugar a uma sociedade da quarentena na qual se perde toda a experiência comunitária... O vírus isola as pessoas. Agrava a solidão e o isolamento que, de qualquer modo, dominam nossa sociedade” (Byung-Chul Han).

Neste quadro, a subjetividade se torna ainda mais frágil. Os terraplanistas e demais obscurantistas, servem a uma estratégia política: ajudar a devorar a subjetividade, semear a confusão e a impotência e fortalecer a servidão voluntária, que é quando obrigamos a nós próprios, por hábito, ignorância ou fraqueza a nos submetermos a um tirano que nos aniquila. Isto é o que vivemos no mundo hoje sob o capitalismo neoliberal e no Brasil sob o desgoverno de Bolsonaro.

Felizmente há sinais de enfrentamento: o movimento contra o racismo estrutural nos EUA e que põe em cheque não só a reeleição de Trump e os recentes atos antifascistas aqui no Brasil são grãos de areia que podem empenar a engrenagem e contribuir para parar o espetáculo do fim do mundo. Talvez até mesmo para ajudar a construir o fim do mundo do espetáculo.

*Haroldo Barbosa

Jornalista filiado à Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (ABJI).

Foto do Eliomar de Lima

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