Não é de hoje que o Samba, espécie de identidade brasileira mundo afora, sofre as consequência de uma política cultural que prefere ignorá-lo a ter que abraçá-lo e reconhecer sua importância como manifestação raiz. Em Fortaleza, a situação não é diferente, apesar da resistência de uma legião de apaixonados e apaixonadas que, mesmo sem incentivos, encontra força na paixão para não deixar o samba morrer.

O que mais preocupa, acima de tudo, é a indiferença do Poder Público para uma manifestação tão representativa da nossa cultura.

Alguns podem perguntar: Mas, por que a preocupação com o Samba, quando existem tantos outros problemas urgentes no Brasil? Saúde, educação, segurança...

Quem faz essa pergunta não está errado. De fato, existem escalas de prioridade no investimento público- e não há dúvidas que a Educação, a Saúde e a Segurança, em estados tão calamitosos, devem ser o foco imediato de recursos e atenção, mas isso não significa, porém, que o Estado deva se omitir do resto. Principalmente, se partirmos do princípio que a Cultura e o Turismo estão intrinsecamente ligados à Educação e à geração de emprego e renda.

Apoiar o Samba vai muito além da destinação de recursos, embora passe por esse ponto também. É entender a função social dos pequenos grupos, sua relação com as comunidades em que estão localizadas. É ter consciência da cadeia produtiva desse segmento, que gera empregos para cantores, músicos, eletricistas, montadores de som, garçons, seguranças, pequenos comerciantes de bebidas e comidas, etc. Estamos falando de um segmento cultural que atrai milhares de simpatizantes e aumenta a potência do setor econômico, fazendo girar a economia de serviços do nosso município. É URGENTE! Pautem o samba na gestão cultural de Fortaleza, do Ceará.

Não se pode dar corda a um posicionamento despolitizado e que serve a interesses obscuros de criminalizar a cultura ou ignorar seu impacto social. É preciso entender a História do Brasil. O samba é, historicamente, marginalizado e perseguido, dada a sua origem negra e africana. A história do samba é de luta. Sempre foi, e em pleno século XXI tem que continuar sendo. E, por isso, precisa ser defendido por todos aqueles que devem a ele sua alegria de viver, seu sustento, sua formação artística e intelectual, seu lugar no mundo. "Iluminai os terreiros que nos queremos sambar..."

Eudes Xavier é sindicalista e ex-deputado federal pelo PT