O jornalista Eliomar de Lima escreve sobre política, economia e assuntos cotidianos na coluna e no Blog que levam seu nome. Responsável por flashes diários na rádio O POVO/CBN e na CBN Cariri.
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Ninguém tem o direito de negar a importância de pesquisas científicas que, nas últimas semanas, fizeram nascer a esperança de que a população mundial tenha acesso a vacinas eficazes contra a covid-19.
Nem todas as notícias são estimulantes, porém. Num mundo onde grandes interesses econômicos costumam se impor sobre as necessidades de povos e países, o acesso a uma ou várias vacinas contra o novo coronavírus está longe de constituir uma questão médica.
As questões políticas e econômicas tem um peso muito maior do que é costume imaginar, pois a oferta de vacina tem uma relação direta com a distribuição de riqueza e de poder político de cada nação.
Países que representam 14% da população mundial já compraram 53% das vacinas mais promissoras e só o Canadá se comprometeu com a compra de doses suficientes para vacinar cinco vezes sua própria população (Estado de S. Paulo, 13/12/2020).
Pelo calendário da desigualdade universal, , a distribuição de vacinas irá seguir um cronograma conhecido, chegando primeiro aos países ricos para depois desembarcar nos portos de nações mais pobres.
Numa situação já desfavorável ao Brasil, a atuação do governo Bolsonaro só contribui para agravar a condição dos brasileiros e brasileiras.
A falta de compromissos com a saúde da população, origem do desinteresse pela produção de vacinas, contribui para jogar a população brasileira para fim da fila, com previsão milhares de novas mortes evitáveis.
Parte desta estratégia consiste em minimizar o perigo da pandemia e estimular a desconfiança sobre a eficácia das vacinas, num esforço que não parece ter relação direta com os números de infectados e de óbitos.
No DataFolha de agosto, quando a covid-19 matava 619 pessoas por dia, 9% da população se dizia contrários a vacina. Em dezembro, com 643 óbitos diários, 22% se diziam contrários.
Com 180 000 mortos, o Brasil já é o segundo país em número de vítimas fatais, embora seja a sexta população mundial e possua um sistema de saúde pública que é referencia em campanhas de imunização.
Sua hostilidade em relação a João Dória, que ousou tomar uma iniciativa própria de vacinação com grande antecedência, demonstra o extremismo dessa opção.
Capaz de anunciar, na sexta-feira, um plano de imunização sem data definida para começar nem número de vacinações a ser atingido, o governo Bolsonaro segue na mesma toada para o próximo período, quem sabe até a eleição presidencial.
Está cada vez mais claro que Bolsonaro está convencido sobre a utilidade da pandemia para manter a população desmobilizada, as voltas com dificuldades naturais para ir a rua defender seus direitos.
Com auxílio de uma parte considerável de lideranças neopentecostais, adversárias do distanciamento social, a opção é tentar aprofundar a baixa auto-estima de amplos setores da população, num esforço para estimular o conformismo diante de uma inevitável elevação no número de mortos.
Alguma dúvida?
Paulo Moreira Leite é jornalista
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