
O jornalista Eliomar de Lima escreve sobre política, economia e assuntos cotidianos na coluna e no Blog que levam seu nome. Responsável por flashes diários na rádio O POVO/CBN e na CBN Cariri.
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Volto ao tema conforme o prometido. Até porque à medida que vou garimpando o que historiadores de nomeada escreveram sobre o Ceará no período que vai de 1603 a 1650, mais me asseguro de que uma das personagens mais injustiçadas de nossa história chama-se Pero Coelho de Sousa. Ele foi o primeiro a arrostar as maiores intempéries numa terra árida e desconhecida, posto que a colonização das novas terras descobertas por Cabral, ainda patinava até ao que hoje conhecemos como os Estados da Paraíba e Rio Grande do Norte, à medo, sob o Tratado de Trodesilhas e as leniências do trono português então subalterno ao do trono espanhol. Havia, de fato, uma longa extensão de terras denominada Maranhão, do qual o Siará Grande era um pequeno pedaço praticamente desconhecido, posto que ninguém havia passado do litoral para adentrar os sertões, depois de cem anos da descoberta das terras do pau brasil. Na verdade, a expedição de Pero Coelho foi “destinada a DESCOBRIR o Maranhão, mas principalmente por terra, porque por mar era improfícua a tentativa...”, consoante observa o Barão de Studart, em ensaio sobre Martim Soares Moreno. Com efeito, Pero Coelho foi aquele que palmilhou ínvios caminhos até à Ibiapaba para alargar as conquistas portuguesas ameaçadas pelos piratas franceses, holandeses e outros estrangeiros menos cotados que, hoje, muitas vezes, são exaltados em detrimento de um homem cuja grandeza deveria iluminar as páginas de nossa história.
Pero Coelho foi o fundador do Ceará e de Fortaleza, não Martim Soares Moreno; nem Matias Beck, quando se trata da capital. No máximo pode-se aceitar o “guerreiro branco”, mitificado por Alencar, como co-participante dessa fundação, uma vez que já acompanhara Pero Coelho na sua expedição, quando tinha apenas 17 anos. O Ceará, por instâncias do Barão de Studart, comemorou oficial e festivamente o tricentenário de nossa fundação em 1903. Por que não o fez em 1911, assegurando louros a Martim Soares Moreno, a quem já se tecia loas como fundador do Ceará? A propósito: o Barão de Studart, nome maior da historiografia cearense, no escorço biográfico anteriormente citado, contribui para sedimentar a constatação de que Soares Moreno tão somente deu continuidade ao trabalho que aqui iniciou Pero Coelho, a quem foi negado recursos e soldados para a grande empreitada, por parte daquele mesmo Diogo Botelho que o estimulou à perigosa missão.
O Barão de Studart reafirma o que se lê em todos os escritos sobre o Ceará, qual seja o fato irretorquível de que depois do confronto com franceses e índios na Ibiapaba, Pero Coelho “volta ao Camocim e daí ao Ceará, onde funda à margem do rio do mesmo nome a povoação de Nova Lisboa”, arraial este que o próprio Soares Moreno diz anos depois na “Relação do Ceará” que era um “sítio de onde já era feita uma cidade, muito bom sítio, onde tenho agora uma fortaleza.” Duas conclusões pode-se tirar desse relato: a primeira e notória é que o fundador de Fortaleza (Nova Lisboa) e do Ceará (Nova Lusitânia) foi inquestionavelmente Pero Coelho; a segunda é que o núcleo inicial não foi totalmente destroçado, posto que o Soares Moreno diz que ali onde ele se encontrava de volta “já era feita uma cidade.” Para arrematar, cito Capistrano de Abreu em carta datada de 12 de abril de 1879, endereçada ao major João Brígido, jornalista e historiador: “Para mim é fora de dúvida que a Fortaleza antiga era no Rio Ceará.” E na mesma missiva: “Estou tratando da biografia dos fundadores do Ceará: Pero Coelho, Francisco Pinto, Figueira e Martim Soares.” Veja-se a precedência do açoriano, a qual não se pode olvidar sob pena de incorrermos numa inverdade e darmos continuidade ao processo de injustiça que se tem cometido contra Pero Coelho.
Barros Alves é jornalista e poeta
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