O jornalista Eliomar de Lima escreve sobre política, economia e assuntos cotidianos na coluna e no Blog que levam seu nome. Responsável por flashes diários na rádio O POVO/CBN e na CBN Cariri.
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A reunião de Lula e FHC teve repercussões muito diferenciadas. No PT, houve alegria, pelo apoio consensual aos movimentos de Lula de construção de uma força política nacional para derrotar Bolsonaro, eleger um presidente com grande apoio popular e resgatar a democracia.
Nos tucanos, desconcerto. Em primeiro lugar, porque FHC não desfruta no partido do consenso que Lula goza no PT. O próprio presidente atual do PSDB expressou as divergências com FHC, afirmando que essa aproximação com Lula dificulta o lançamento de um candidato tucano e que ela não representa uma posição do partido.
A ponto que FHC teve que reiterar que, se os tucanos tiverem um candidato, ele o apoiará no primeiro turno, reiterando que, em um segundo turno entre Lula e Bolsonaro, votará no petista.
Outros tucanos repudiaram o movimento de FHC.
A terceira via também se sentiu, com razão, escanteada pelo encontro e pela posição expressada por FHC, com razão, dado que ele manifesta ceticismo de que surja um candidato desse setor com apoio.
Por trás do encontro dos dois ex-presidentes, houve movimentos muito diferenciados dos dois partidos a que eles pertencem. O PT, apesar de afetado diretamente pelo golpe que derrubou Dilma, pela prisão e o impedimento do Lula ser candidato e ter sido eleito em 2018 e pela eleição fraudada de Bolsonaro, se fortaleceu, ainda mais com a recuperação por Lula dos seus direitos políticos, pela sua retomada dos contatos políticos e pela sua candidatura favorita à presidência do Brasil.
Enquanto que os tucanos, depois de quatro derrotas seguidas para o PT, comandados pelo último derrotado, Aécio, se engajaram no golpe contra Dilma. Foi o ato final do movimento, já iniciado antes, de radicalização das bases de apoio dos tucanos, na direção da extrema direita. Movimento expressado claramente em repúdio à presença de Serra e de Alckmin nas manifestações de extrema direita na Avenida Paulista. As bases tucanas migravam para a ultra direita e deixavam órfão o partido, que assim terminava sua trajetória política.
É nesse marco muito diferente politicamente que Lula e FHC se encontraram. Lula, candidato favorito para voltar a ser presidente do Brasil, à frente de um partido unido e fortalecido. FHC, solitário, com seu prestígio pessoal em alguns meios, mas, como ele mesmo confessou, já sem um partido que no passado teve força.
Os dois se uniram no resgate da democracia, depois que os tucanos apoiaram o golpe e o governo Bolsonaro e fizeram a dura experiência do apoio a um presidente que levou o Brasil à pior crise da sua história, com catástrofe humanitária, atentados cotidianos à democracia, desmonte do Estado e propagação do ódio.
Só porque os tucanos – e FHC em particular, que havia se abstido em 2018 e agora diz que votará no Lula no segundo turno – se arrependeram, que o encontro foi possível, para resgatar a democracia no cardápio, como disse Lula. Isso une os tucanos – ou, pelo menos, FHC e o PT.
O que os distancia foi o tema central que os levou a disputar a presidência por 6 vezes seguidas. Os tucanos, pelas mãos de FHC, aderiram ao neoliberalismo e o implementaram na década de 1990 no Brasil. O PT se levantou, desde o primeiro momento, na oposição ao neoliberalismo, que o levou a implementar, com o apoio democrático da maioria do povo nas eleições, um modelo de governo antineoliberal, de prioridade das políticas sociais, dos processos de integração regional e de resgate do papel ativo do Estado.
Se pode dizer então que taticamente, na luta para derrubar o Bolsonaro, os dois partidos têm coincidências, que permitam esse encontro. Mas, mesmo neste governo, divergem no apoio ativo dos tucanos à política neoliberal de Paulo Guedes, enquanto o PT segue se opondo fortemente a ela e anunciando que reverterá tudo o que possa – a começar pelas privatizações de empresas públicas -, quando Lula possa voltar a ser presidente do Brasil.
Emir Sader é sociólogo e cientista político
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